sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DESEJO SORTE

Vivi sob os ferretes de seu jugo,
domando amargos na alma desprezada.
Eu era muito pouco além do nada ,
era o verbo sofrer que ora conjugo!

Representando troços, trapo humano,
sob a masmorra fria dos desejos,
moribundo, eis que explodem relampejos,
como alucinações do ser insano!

E qual milagre vivo, então caminho
ao rumo iluminado doutro norte,
esquecendo de vez acerbas dores.

Reinando a paz, agora noutro ninho,
auguro à ex-amada boa sorte,
que nunca se arrependa sob agrores
!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

DO LIVRO "BAÚ DE VOZES", no prelo:

ARQUIVOS TUMBAIS


Há cheiro de mar na odisseia que enfrento,
ao lado das ondas bravias que assustam.
Transmuda o poeta, levando seus passos
às praias da infância, hoje tão distanciadas.

Um vento rasteiro sacode a folhagem,
constrói redemoinho, se alteia e me entrega
mensagens de longe falando de amor
- enlevo que atiça as lembranças mais puras.

A convicção de que tudo passou
traduz o desprezo e a mudez de minha alma,
pois ouço, sem dúvida, o canto dos cisnes.

Prazeres antigos, amores e sonhos
agora são cinzas, eventos extintos,
arquivos tumbais! Nunca mais! Nunca mais!


A VIDA FLUIRÁ

Manhã carregada. São nuvens cinzentas
toldando as ideias, os versos, as rimas,
compondo cenário de fontes antigas,
traçado em matrizes de amores extintos.


Alheios às horas, os passos afundam
na areia macia da praia silente.
A voz solitária que solto ao relento
murmura canções carregadas de história.


Revela-se o mundo das recordações,
levando a memória aos confins de um passado
deixado ao rigor das paixões mais sublimes.


Meus olhos se atiram aos longevos instantes;
minha alma deambula no átrio do ocaso.
A vida, qual éter, em breve fluirá.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

MINHA SORTE

O mar revolto explode nos rochedos,
deita na praia em ondas vigorosas;
nos escuros, imagens curiosas
pressagiam futuro de arremedos.

Sozinho, ao deus-dará, piso na areia;
O vento me castiga, eu me angustio;
ao passo a passo, entrego-me erradio,
rumo a qualquer lugar desta epopeia.

O passado foi vida, virou cinza.
Sobraram restos, troços, vozes nuas,
frases picadas, simples, sem valor.

O presente é o agora - e ele é ranzinza -;
envolto à maresia pelas ruas,
A sorte que me acena é sentir dor!


ANDANDO À-TOA


Sei lá da sorte tola que procuro,
beijando o tempo vago como um bem
que em verdade inexiste e não sustém
tudo aquilo que anseio aquém do muro.

Aqui, sob os escuros do desejo,
entregue à míngua nua de meu sonho,
acordo à realidade: não me imponho
ao carrossel pujante do que almejo.

Andando à-toa, à margem do destino,
posto à prova madura do abandono,
imaginar o quê diante do nada?

Sobre musgosa trilha, em desatino,
vou-me assim, sem defesa, rumo ou dono,
domando a vida insana e estabanada.
                                                                             (21.09.09)



terça-feira, 25 de agosto de 2009

Poemas publicados no livro

"TUNA"

Editora Zem, Teresópolis, Rio de Janeiro - 2008:



Revisão: Professor Astolpho Vieira Thalles Ribeiro

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Capa: Artista Plástico português MIGUEL WESTERBERG. Seus desenhos e pinturas, datados de 1984 em diante, encontram-se no site seguinte:
http://miguel-westerberg.mysite.com

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Este livro foi produzido no Escritório de Literatura LUIZ FERNANDO MATHIAS NETTO, situado na Rua Casimiro de Abreu, 68, Teresópolis, Estado do Rio de Janeiro.



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FICHA CATALOGRÁFICA
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cip-brasil. Catalogação-na-Fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ
M379t
Mathias Netto, Antôni
Tuna: poesias/Antonio Kleber Mathias Netto – Teresópolis, RJ: ZEM,2008 – 162p.:
ISBN 978-85-99270-09-7
1. Poesia brasileira. I. Título.
08-1006. CDD: 869.91
CDU: 821.134.3(81)-1
13.03.08 14.03.04 005769
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DEDICATÓRIA

Ao amigo Herbert Henry Barwick (Bete), com saudades.


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Muitos se perdem em poças d’água, enquanto alguns percorrem oceanos sem perder o rumo.

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ÍNDICE

Soneto
Rendas e Teias
Fugacidades
Vida, Fome, Morte
Dúvidas Perversas
Preliminar do Fim
Mudanças
Sofrimento
Não me Negues Agora
Promessas
Últimos Avisos
Ser Transcendente
Herança
Agora é Tarde, Muito Tarde!
Cultivo de Saudade
Vem
Sonho
Hoje Sonhei
Renúncia
Mortalha
Da Musa à Dor
Quero Ver-te Feliz
Rodeio de Paixões
O tempo Escoa
Viagens
A Musa e o Caos
Assuntar Recordações
Do Jeito que Queiras
Alguns Beijos Frios
És Águia
Graças Feminis
Mãe, Ser Transcendente
Quimera
Muita Saudade
Do Jeito que Queiras
Eu Sou Palhaço
Sensualidade
Olvido
Mero Sonho
Rosto
Não Sobra Escolha
Senso Ético
Outro Palco
Apreensão
Ingenuidade
Futuro
Mistério das Florestas
Isso Acontece
Barro Efêmero
Ossos do Ideário
Desatenções
Mal Soberbo
Convulsões
Rosa Rara
Meu Sítio de Paz
Abandono
Espero o Amanhã
Injustiça
Mar
Sonhos Antigos
Raros Encontros
Não Dizes Ai
Frustração
Pressinto-me Abrolho
Rememoração
Ao Amigo do Alheio
Liberdade
Ela Chega Envolvente
Um poema que Dona Zita Comporia (Ao seu filho,
Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido político)
Imprudência
Planilhas Desatentas
Imposições
Sonetos a Mancheias
Ciúme
Remoendo o Passado
Meros Mortais
Brado Urbano
Dor de Amor Banido
Eis Quem És
Início do Fim
Operário-Pranto
Saudades
Tolo
Esquecer
Presença
Palhaço
Deriva
Silsanc
Revolta
Congresso Nacional da Insensatez
Omissão
Psicoterapia: Recomendo!
Neuropatas
Líderes de Lata
Mestres
Pelejas Sensuais
Prudência
Guerras
Teses Postergadas
Teu Silêncio me Mata
Mudança
Desprezo
Chamar o Feito à Ordem
Luta
Pecados, Pecados!
Recomeço
Disfarces
Mistérios Doutras Trilhas
Nada Mais Há Que Importe
Sossego Comunitário
Encontro do Prazer
Sonhos e Sonhos
Pressentimento
Ao Depois
Serás Sensualidade3
Correntes
Degenerações
Amor que Delira
“Para Onde Foste?”
Aguardo
Teu Retorno
Criminalidade
Vento
Parlamentares Sanguessugas
Mereço Meus Flagelos
Esqueça-me de Vez
Inversão
Almas Carentes
Ilegalidades
Reta Final
Caderno de Poesias
Conspícuas Emoções
Eis o Discurso
Procela Imerecida
Meu Corpo é uma Estação
Superioridade dos Instintos
Temperanças
Aventura Impossível
Destino
Busca ao Prazer
O Teu Querer
Mistério das Florestas
Desatenção
Vitória dos Vadios


(OS COMENTÁRIOS QUE SE SEGUEM A ALGUMAS POESIAS NÃO FAZEM PARTE DO LIVRO)


SONETO

Soneto! Arte da pena, rei do verso,
abrigo da emoção, do sonho puro,
castelo de ilusões, porto seguro,
tremor do coração em ânsia imerso!

É a síntese do canto mais profundo;
residência das dores nos desates
entre amantes e amigos; e entre vates,
tribuna das paixões de todo mundo!

Canta na paz, na guerra e em qualquer norte
a vida fulgurante e o breu da morte,
porta-voz das comunas e dos guetos!

Todo bem, todo mal, o azar e a sorte,
encontram nos quartetos e tercetos
o encanto e o ferrete dos sonetos!

Comentários:

“É uma pena não morar um pouco mais perto do Rio de Janeiro, para poder te dar um forte abraço.

Tua poesia é magnífica, você escreve realmente com a alma, soube disto desde que comecei a conhecer o português através dos seus livros. A língua reflete paixão pela vida e inteligente e sábia crítica dela mesma. Cada recado no orkut é companhia e é Reflexo do que vives atualmente”.

Musicoterapeuta Colombiano Jesús Alberto Herrera.

Caxias do Sul - Rio Grande do Sul.

#

“Adoro os seus poemas e sempre repasso para os meus amigos, que os adoram!!!”
Vivian Ritta - Pelotas - Rio Grande do Sul

http://meu.powerscrap.com.br/vivian.ritta

#

“Adorei "Lembranças Nefastas". Nossa! Como escreves bem. É sempre um imenso prazer receber um poema teu.
Humildemente, te retribuo com um de minha autoria. Espero que gostes.”

Anna Shliske

anna.schliske@hotmail.com

São Vicente – São Paulo

#

“Obrigada, as poesias são lindas!!!!!”

Tânia Rezende - Jataí - Goiás

taniaeamarildo@yahoo.com.br

*

RENDAS E TEIAS

Ardência sem conta, minha alma incendeia,
meu corpo se alinha à emoção do desejo,
meus lábios se aprontam aos múltiplos beijos,
enquanto meu sangue borbulha nas veias!

O encanto da noite burila a libido,
transforma meu corpo em nudez de emoção,
prepara o momento onde nula é a razão,
ditando os domínios do amor mais sentido.

Ao ver-te, o universo se aquieta aos meus ais;
meus olhos lacrimam rendidos às ânsias,
enquanto tua voz murmurosa me enleia.

A sorte é magia; comum dos mortais,
enredas-me ao gozo, ao tremor e à fragrância
do teu universo de rendas e teias.


Comentários:

“Desejo com muita satisfação receber teu livro de poesias.
Deixo-te meu endereço para o envio”.
Rafael Martins Leme - Bairro do Marmeleiro - Mairinque – São Paulo

#

“Como seus poemas são cheios de luz!”

Kaki Silvestre

#

“Oiee!
Brigada pelo poemaa...eh lindoo!
Parabeeens!
Mto sucesso na sua carreira!”

Samantha – Espanha

#

“Gostei do teu poema”.

Ângela Freitas - Florianópolis - Santa Catarina

angelafreitas_sc@hotmail.com

#

“Sou jornalista e colunista de cultura duma revista eletrônica. Assim eu tiver um tempo legal, farei uma entrevista contigo sobre teu trabalho. Pode ser? Vamos manter contato mais direto”.

Adriana Sangalli

adriana_sangalli@hotmail.com

#

“Fico buscando palavras para responder a poemas tão lindos!”

Fernanda - Paraíba

thacyane.simoes@gmail.com

#

“Linda poesia!”

Célia Viam - Amparo - São Paulo

*

FUGACIDADES

Revivo os encantos do colo macio,
da ardência do corpo - abraços sem conta! -,
do encontro furtivo – atropelos de monta!-,
do afago, do beijo, pelejas do cio.

Fogosa lembrança dos túmidos seios,
regaço do amor, dos murmúrios, dos toques,
arrojo à lascívia, qualquer fosse o enfoque
dos meus sentimentos à luz dos anseios.

Memória que emerge de tempo saudoso!
Brotar de lembrança tecida em desejos
ainda tão vivos, profundos, vibrantes!

Mas... sonhos que afloram tardios, nervosos,
são reminiscências de antigos andejos,
são doces delírios que duram instantes!

Comentários:

“Antônio é um verdadeiro poeta, com uma alma muito sensível. Seus poemas são de arrepiar, tocam fundo no coração. São lindos! Agradeço por ter o prazer de participar e ler suas criações...”

Carla Vanzelotti – Porto Alegre – Rio Grande do Sul

#

“Ei, irmão, muito boas tuas poesias!”

Raul - SP

luarlibertario84@yahoo.com.br

#

“Nossa! Seu poema é maravilhoso!”

Nice Ribeiro - Mirassol - São Paulo

nice.coca.cola@hotmail.com

*

VIDA, FOME, MORTE

Neste exercício fúnebre de vida,
de fraca fé e abismos tão profundos,
em procissão, caminham moribundos,
clamando termo às dores e às feridas!

A lamúria da fome é a mais sentida,
espalhando-se ao vento das procelas.
A multidão faz culto à luz de velas,
em nome da miséria espavorida!

Da morte, o verme imundo toma forma
na vigília estratégica do bote,
à espera do banquete que o alimenta!

A carne que sucumbe, ela disforma;
levada ao minifúndio de seu lote,
lança-se à tumba o resto da tormenta!

Comentários:

Desta vez, não pude deixar de te escrever. Já li várias coisas tuas por aqui e, te confesso, não conhecia teu belo trabalho.
Meu Deus! Fiquei encantada! Acabei de ler na página de uma amiga teu poema “Amores Virtuais”. Demais!!!
Ah ,Kleber! Como eu gostaria de estar na tua pele, para dizer o que dizes da forma como tu dizes!Fico me perguntando: como chegar lá?
Gosto de escrever, mas sei que é lugar comum. Sei também que a poesia precisa ser acessível à compreensão dos menos cultos, razão pela qual escrevi Literocracia. Mas se é que existe inveja boa,invejo a forma como escreves. Queria teu talento para poetizar. Enquanto isso não acontece, simplesmente registro o que me vai na alma de maneira simples. Eis:

*

Outonal

Sobre a estante no atril
As páginas dos meus sonhos
Esvoaçam (é abril)
E uma paisagem outonal
Se faz em minha vida.
Grande abraço, Kleber. E parabéns! Começarei a ler mais o que é teu a partir de então. Bom trabalho e muitas produções”.

Inara Passos Quintian

Inarapassos@terra.com.br

*

DÚVIDAS PERVERSAS

Quero a emoção dos beijos escondidos,
chantagem viva, rogo sem limites,
ao lume da lascívia traiçoeira
persuadindo a mulher que ainda resiste.

Acolho o titubeio da incerteza,
mudez e vozerio simultâneo,
nos rápidos encontros permitidos,
à luz da vela-amor indefinida.

Há montanhas de dúvidas perversas
afugentando o instinto, as impulsões
do desejo voraz e clandestino.

Entretanto, não quero que se esvaiam
esses raros encontros do prazer,
junto ao corpo sensual que me alucina.

Comentários:

“Espero que não tenhas ficado aborrecido por eu ter colocado no scrapbook dos meus amigos um trecho do teu livro. Se me perrmitires, colocarei outros que me impressionaram muito. Espero com isso que despertem para essa obra magnífica, habib. Estou adorando!
Tuas obras nos prende muito a atenção, nos deixando ansiosos para saber o final.
Somente agora compreendo o porque de dares tanto valor à inteligência das pessoas.
Pois, como te expressas, a ignorância gera tudo o que existe de degradação e promiscuidade moral. Se estiver errada, corrija-me, por favor.”
Nadja - Santos - São Paulo

cleo.cultura@terra.com.br (Incredi Mail)
nadja_bella@hotmail.com (messenger hotmail - msn)

*


PRELIMINAR DO FIM

Que espera nutrirá perseverança,
se é utopia a ilusão que me fascina,
se é morto o arquivo augusto desta sina,
se a sorte é fantasia e desconfiança?

O tempo agindo à espreita, na surdina,
arrosta-me aos ardores da lembrança;
até parece jogo de vingança,
expondo-me a vexame nas esquinas!

Tempo sagaz, perverso, engodador;
voz dócil, mansa, truque das sereias,
eis as ondas morrendo nas areias!

É assim mesmo, sem tirar nem pôr:
a vida arruma o riso antes da dor,
preliminar do fim, última ceia!

Comentários:

Kleber, podes enviar o livro. Terei o maior prazer em devorá-lo, esses teus poemas tão belos e tocantes. Confirme para mim (via orkut ou via hotmail) o recebimento do e-mail que te enviei agora, ok? Tchau! Até!”

Vlad Leon

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“ Puxa, que lindo poema!”

Josélia Abbott - Caico- Rio Grande do Norte

jomfabb@hotmail.com

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“Delícia receber um soneto seu, assim no início do dia. Dá-me ênfase e coragem para começar feliz, agasalhada aos maravilhosos, embora irrequietos sentimentos! Obrigada, milhares de vezes! Tenho lido seus poemas, também, em algumas comunidades. Fico encantada e orgulhosa de ter um amigo de sentimentos tão nobres! Aamei a resposta que me deste ao depoimento que te fiz na Comunidade “Canção aos Meninos Explorados”. Breve farei outro tópico, desta vez concernente às intenções da Comunidade. É maravilhoso tudo que escreves!”

Poetisa Maria Madalena Gomes - João Pessoa - Paraíba

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“Parabéns pelo poema; muito bom mesmo!”

Celso - Corumbá - Mato Grosso

opoetaeoviolao@gmail.com

*

MUDANÇAS

Atirei-me aos teus pés feito mendigo
a implorar-te migalhas de atenção;
humilhaste, porém, meu coração,
com teu desprezo rudo, vil castigo.

Sob o amargo pesar que me vencia,
cansado de sofrer de ti opróbios,
desisti da carcaça dos micróbios
para fugir da atroz melancolia!

Vou-me, sei lá pra onde, parto agora,
talvez correr por este mundo afora
esquecendo das dores que sofri.

Não sei de teu futuro, tua aurora;
mas enterrei as dores que vivi
e terás tu seus ossos só pra ti!

Comentários:

“Antônio Kleber.
Sempre me surpreendi com seus poemas, sonetos e poesias.
São simplesmente maravilhosos. Gostaria de saber se você não tem algum poema ou soneto que fale sobre a relação com a leitura, livros, desse tipo sabe? Procurei muito, mas não achei nada parecido. Estou precisando para um concurso de poemas aqui da cidade. Obviamente, citarei o autor, é claro. Se tiver algum, ou se conhecer algum, por favor, me mande. Atenciosamente”.
Nefer Croft Dilion – Paris – França

pirraca@bol.com.br

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“Lindas poesias, Antonio. Parabéns!”

Célia Camargos - Curitiba - Paraná

celiabarbosa@hotmail.com

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“Adorei teus sonetos!”

Priscila - Belém -Para

pri_orriodon@hotmail.com

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“Lindo esse poema!”

Núbia Ferreira - Itaperuna - RJ

cnmf2@hotmail.com

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“Lindo... Lindo poema”.

Idalina de Carvalho - Cataguases - MG

idalinadecarvalho@hotmail.com

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Caro Antonio Kleber (Poeta):

“Realmente, suas poesias são encantadoras e, com certeza, fala ao nosso âmago e vai ao profundo do nosso sentimento. Gosto mesmo! Principalmente os sonetos românticos que você, com sua pena inspirada, consegue compor. Parabéns”.

Igreja Ass. de Deus de Pau D’arco I

acesse: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=44404818

*

SOFRIMENTO

Os pés descalços sofrem calos vivos,
marchando sem destino sobre seixos,
sobre espinhos nus de mata espessa,
sobre a quentura viva dos asfaltos.

Internatos dos ódios recolhidos,
as margens das estradas dão guarida
às vocações confusas dos meninos,
no entrechoque do sonho e do delírio.

Cortejo de homens fortes, decididos,
vão-se os pais nas agruras da miséria
em direção aos mares das procelas.

Reluz o sofrimento no destino,
diante da geração que se sucede
à geração da dúvida e da dor.

NÃO ME NEGUES AGORA

O que te faz tão triste e amargurada?
Conta-me tudo, vamos, conta agora,
detalha-me por que tua alma chora,
entorpecida, em transe e agoniada!

Não me digas que o amor que te sustinha
abandonou-te à sorte das esperas,
duro golpe ao rigor de briga às veras,
negando-te a mais simples das florinhas!

Reage, a vida é sábia, não te entregues;
para o enfermo, ela não datou sua morte,
fazendo até surpresa do amanhã!

Há caminhos daqui para outro norte;
uma vez mais, suplico-te, me segue
em busca de existência mais louçã.

Comentários:

“É crença de muitos que se deve separar o homem do artista. Relativamente a Antonio Kleber, não se aplica a assertiva generalizada. Ele é, no gesto e na atitude, no dito e no feito, no sonho e na realidade, sempre o mesmo: veraz, corajoso, apaixonado... Pautando suas ações pela cartilha do mais puro humanismo, Antonio Kleber convive com grandes e pequenos, com ricos e pobres, com fortes e fracos, sem que isso o perturbe. Vale a pena ler suas mensagens, deixar-se impregnar de sua beleza e concluir que, felizmente, nem tudo está perdido enquanto existirem poetas do quilate de Antonio Kleber”.

Poeta Clóvis Almeida Alt, membro da Academia Sul-Brasileira de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico de Pelotas.

*

PROMESSAS

“Meus dias são pautados pelos teus;
a história do meu tempo é a história tua.
Rendo graça ao amor que se insinua,
instinto dadivoso, dom de Deus!

Ah, como sou feliz sob teu manto!
nada me abate, nada infelicita,
a sorte me elegeu a favorita!”
Ele, feliz, responde aos acalantos:

“Saibas que sou também muito feliz,
ardência há de sobejo em nosso amor,
mostra eternal dos sonhos, dos desejos!

Ultra-sagrados véus lá na Matriz,
elegeremos ser, junto ao criador,
leais amantes, sedes de bafejos!”

ÚLTIMOS AVISOS

Na arquibancada - circo de quimeras -
Agora sofro as dores da lembrança,
passeando na memória da criança,
encanto de ditosas primaveras!

Lâmina de aço afiada é a nostalgia,
soberba sedutora dos sentidos,
aformoseando o fado dos feridos
aos auspícios vilões das noites frias!

Sob o rito de sorte pressagiosa,
alumbram-se cenários, brincadeiras;
no picadeiro, danças, gritos, risos.

Circo da vida, festa glamurosa,
vigora ao megafone a voz cimeira,
a proclamar os últimos avisos!

Comentários:

“Olá amigo, Antonio! A minha comunidade de compositores e poetas está à sua disposição. Aguardo sua presença!
Faça uso dos tópicos das enquetes e dos eventos.
Sua presença é uma honra!”

Regis Clem (Compositor) - São Paulo – SP

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=31599218

#

“Muito lindo o poema. Amei!!!!

Celina Doval - São João da Boa Vista - SP

celinadoval@hotmail.com

#

“Lindo poema!”

Eliane Costa - RJ

eliane.vitoriacosta@gmail.com

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“Gostei muito das suas poesias”.

Nadia Andrade - Canoinhas - SC

nadiaregina@superig.com.br

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SER TRANSCENDENTE

Ser mais rijo não há na natureza,
determinado, ousado e corajoso,
que enfrente abismo escuro e perigoso,
do que a mãe junto ao filho, com certeza!

Desde a concepção ela se entrega
ao rigor de defesa quase insana
no resguardo do filho que se ufana
de ver a mãe vencer toda refrega.

Senhora dos poderes da criação,
ela é dona de força misteriosa
na Arte de ser Mãe - Arte Divina!

A Humanidade acena-lhe afeição.
Às gerações, é dádiva preciosa,
milagre das entranhas femininas!

HERANÇA

Que vida tive em todos esses anos,
enclausurado em dores de saudade,
ao jugo da esperança mais covarde
a impetrar-me ilusões e desenganos?

Neste outono, de que me ufano agora,
se a augusta primavera dos encontros
rendeu-me amargas dores, desencontros,
e a orfandade do amor que me devora?

Restaram-me o vazio e a solidão;
sequer lembrança boba vicejou,
à sorte de alentar-me em alguns sonhos.

Talvez, de ganho, eu herde a compaixão
da mulher insensível que enlutou
as horas dos meus dias mais risonhos!

Comentários:

Sua poesia é de extrema qualidade. Obrigado pelo envio das mesmas.

Ewerton Antonio Nóbrega - Recife - Pernambuco

ewertonanobrega@bol.com.br

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“Antonio, que lindo seus poemas!”

Claudia Henrique - Jaú - SP

claudia.iroma@hotmail.com

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“Gostei muito do seu poema!”

Carmem Rubinato -Bauru - SP

carmem-leite@bol.com.br

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“O seu trabalho é forte e característico, o vocabulário precioso, originado de uma pesquisa infatigável. Dono de uma imaginação fabulosa e de observação arguta, estilo próprio e vigoroso, muitos de seus contos enquadram-se entre os melhores da nossa ficção já produzidos”.

Escritor Everaldo Botelho Bezerra, Presidente da Academia Gonçalense de Letras,Ciência e Artes - AGLAC - Fevereiro/ 2001

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“Bela sua poesia....”

Inez Garlet - Anchieta - SC

#

“Adorei o soneto!!
“É sempre bom ler coisas bonitas”.

Cida Souza - Cabo Frio - RJ

cidasousac@hotmail.com

*

AGORA É TARDE, MUITO TARDE!

Acordei tarde aos teus apelos, muito tarde!
Hoje a saudade rasga minha alma ponto a ponto
- vento minuano, tempo rude onde me apronto
para pedir que uma outra vida não retarde! -

Não há mais esperança; os sonhos se esfumaram.
Toda ânsia agora é cinza fria, é coisa morta.
Das muitas dores que sofri, eis o que importa:
foram de ardência as dores tantas que encantaram!

O amor não resolvido, sinto, é uma loucura.
Simultâneo ao desejo forte de esquecê-lo,
ressumbra o de voltar, sem pejo, a revivê-lo!

Mas eu lavrei a minha a própria desventura,
desatendendo ao teu clamor - que acerba agrura!-
olvidando tratar-te, amor, com meus desvelos!

CULTIVO DE SAUDADES

Desperto sob os ventos outonais,
estranho e só, refém da nostalgia.
Sofro da dor a sua liturgia;
sofro por ti que não verei jamais!

Rompendo histórias ásperas, vazias,
perdi alguns dos liames ancestrais;
cercado de lamentos, tristes ais,
ando farrapo alhures, noite e dia!

Não consegui trazer-te à minha essência,
malgrado a luta que lavrou feridas,
sob tantas mentiras e verdades!

Deixaste-me de herança a tua ausência
e o castigo das noites mal dormidas.
Hoje me entrego a cultivar saudades!

VEM!

Entrega-me tuas mãos; sente o pulsar
das veias do meu corpo - mornas, tensas -
tomadas de desejos, benquerenças,
retrato da volúpia a desvairar.

Engaveta o tratado pudoroso,
com ele o anacronismo do teu pejo;
provarás o aliciente ardor do beijo,
se olvidares teu medo adulteroso.

Vem. Dá-me o abraço nu das ânsias puras,
não te afogues nas águas inseguras
das dúvidas atrozes que te minam.

Enterra de uma vez as amarguras,
pois a vida e o sofrer não se afinam,
se outros amores deveras nos fascinam.

SONHO

Eu tive a sorte de sonhar contigo
e deleitar-me sob teus encantos.
Lembro saudoso a emoção do canto,
recordo teu regaço, vero abrigo!

Vivi teus beijos, teus ternos abraços.
Sobre os lençóis, as ilusões e o tempo
caminham lentos, caracóis que enlaço,
quiromancia lucubrada ao vento.

No inconsciente projetar das ânsias,
sob a vivência de um prazer só meu,
a natureza colocou-te em mim.

Meu sono é construção de relevância;
teu corpo semi-nu não se rendeu;
aguardarei um novo sonho, enfim!

HOJE SONHEI ...

Hoje sonhei contigo ainda mais bela,
mulher perfeita, entalho escultural.
O olhar, o abraço e o beijo preludial
tornavam-te a mais doce das donzelas!

Foi sonho sem rezingas; eras minha,
num cenário de brisas, rios, prados,
de florestas, de montes azulados,
ao vergel alfombrado de florinhas!

Lúdico instante em sonho acastelado,
ardor que arrosta as ânsias aos limites,
prazer forjado ao rumo do infinito!

Mas eis que assoma o tempo triste fado:
Acorda-me apontando o que me assiste
Na solidão de um mundo assaz maldito!

RENÚNCIA

O amor que te devoto e me aventuro,
é sentimento ativo, raro, intenso,
que às vezes nem eu mesmo me convenço
de que ele habite em mim já tão seguro!

Confesso-te a cegueira que me toma,
a mestra dos transtornos, dos impulsos,
tirana dos meus passos, dos meus pulsos,
prenúncio das algemas, da redoma!

Como negar-te a trama que se ajeita
sob o breu de interesses ressentidos,
se o meu amor por ti é uma verdade?

Proclamo, pois, a ti, oh, musa eleita,
abandono ao amor ensandecido.
Não serás submissa a insanidades!

MORTALHA

Saudade cruenta! Flecha que transpassa,
para matar de vez todo meu sonho,
a alma e o coração – fado medonho!
Perseguição insana que me caça!

A espera debilita as esperanças,
de ter no amor mais vivo a recompensa,
para enterrar de vez a chama intensa
da nostalgia atroz que aturde e cansa!

É como chaga aberta que doesse,
Ou sangue nas artérias que me ardesse,
Esse desejo doido de abraçá-la!

Dos sonhos para a tumba, este interesse,
esta paixão doída que atassalha
e a saudade a servir-me de mortalha!

DA MUSA À DOR

Como eu disse, o poeta a musa cria.
Logo, porém, a dor se faz presente,
toma o lugar da amante sempre ausente,
engano a transtorná-lo todo dia.

Garanto, não seriam diferentes
estes versos vertidos doutro esteta,
diante de musa estranha, anacoreta,
que é metade ilusão, metade gente!

O verso é produção de alma ferida,
é canto lamentoso no abandono,
declaração à amada que partiu!

Pois a musa é o fantasma que dá vida
aos sonhos delirantes dos outonos
de quem nunca viveu, só se iludiu!

QUERO VER-TE FELIZ

A esta hora da poesia te cobiço,
pleno de ânsia, aguardando o último verso!
Talvez não queiras nunca falar nisso,
assunto de libido - que regresso! -.

Mas o teu provocar é chama e viço.
Decerto, algum demônio despertou
cada um dos neurônios do que sou,
neste mar de lascívia em que me atiço!

São teus estes meus versos transparentes,
convocando nas rimas contundentes
toda a sensualidade que tu abrigas!

Quero ver-te feliz no que tu sentes;
oferecer-te o encanto das cantigas
no leito das luxúrias mais antigas!

RODEIO DE PAIXÕES

Não ter sossego, espero nunca o tenhas,
pois caçadora que és, quero-te assim:
dissoluta lançando sobre mim,
palavras doces, sensuais resenhas!

Que a tua languidez venha dos campos,
dos prados, das coxilhas da campanha,
trazendo na tua alma toda manha
do amor desnudo, amor cheio de encantos!

De caçador a caça, impulso ardente,
entrego-te o convite mais fremente,
convidando teu corpo às emoções!

Espero-te feliz, alma fulgente;
receberás prazer aos borbotões,
ao custo de um rodeio de paixões!

O TEMPO ESCOA!

Teu corpo é o róseo fruto que apetece,
é dádiva dos deuses que me abrasa,
é sonho e inspiração que me desasa,
mistério transcendente que ensandece!

Teu corpo é o sumo augusto dos desejos,
insuspeito convite ao dar-se as mãos,
ao trilhar em silente solidão,
às alfombras das ânsias em festejos!

Teu corpo é a magia da natura,
é névoa à noite ardente da aventura,
capaz de se iludir à brisa à-toa.

Assim, diante da tua formosura,
receio de perder-te – a névoa voa!-
apuro-me em vigília – o tempo escoa!-

VIAGENS

Natureza atrevida e rompedora,
quem és, mulher, que, ao grito contundente,
esparges teu desejo tão ardente
no vôo livre de uma águia sonhadora?

Tu andejas por coxilhas e campinas,
mulher- ninfa ou menina caçadora,
voluptualizada à adrenalina
que te impulsiona à fuga das masmorras!

Recebo-te, estás sós, libido acesa,
aprisionada às ânsias, corpo entregue;
teu beijo mostra o quanto estás carente.

Domina-te o delírio, és doce presa.
No cio, me procuras, me persegues,
para as viagens longas, transcendentes!

A MUSA E O CAOS

Eis, aí, toda a essência do meu rito,
tramando contra a própria criação:
dei vida à musa e nesta direção
trama-se a dor crucial na voz do mito!

Sou cúmplice no amor com meu desejo;
sou cúmplice na luz e no mistério.
No coração amante e no meu beijo,
cumplicidade é voz de magistério!

Repilo a pretensão do azar sem rumo.
Abraço a sorte e a luz dos seus prenúncios.
Estendo o meu prazer aos solitários!

A musa é inspiração; do verso, é prumo.
Porém, não raras vezes, é o anúncio
lançando ao caos poetas visionários!

ASSUNTAR RECORDAÇÕES

Retorno à camponesa dos meus versos,
cria do barro cru dos meus desejos,
até hoje em profundo lago imersos,
rendendo-me saudades em lampejos!

Sinto-te assim, rebrilho campesino
(não sei se és fogo-fátuo ou se és diamante);
no entanto, reinauguro a dor do amante,
sob os antigos sonhos concubinos!

Clandestinos, rompemos madrugadas,
enfrentando as mais belas alvoradas,
deitados nas alfombras dos capões!

Agora, ao pé da noite enluarada,
presente a brisa augusta das canções,
entrego-me a assuntar recordações!

DO JEITO QUE QUEIRAS

Atiço-te, fêmea sem rédea e sem pejo,
no alvor dos meus linhos, na cama macia.
Há muito não sinto este ardor e euforia
guindando os sentidos ao puro desejo.

Apuro-te na ânsia que encanta meu dia,
que assume o supremo gozar que antevejo,
clamando a carícia das mãos, do meu beijo,
presente dos deuses que minha alma extasia.

Seguro-te firme, tesouro sem preço,
à sorte sagaz que te aninha ao meu lado,
fazendo-te presa do amor sem fronteiras.

Respira ofegante; aos teus ais aquiesço.
Assuma a lascívia do êxtase alado
e entrega teu corpo do jeito que queiras!

ALGUNS BEIJOS FRIOS

Nas sombras noturnas, varando meu tempo,
Lagoa dos Patos, ah, triste me vou,
vertendo saudades, momentos ardentes,
marulhos de inverno, murmúrios de amor.

Canções das areias, das águas, das aves,
das tardes de encontros, das velas, das brisas,
agora lembranças que assumem meu fado
rendendo à minha alma sentidos amargos.

Entrego meus freios às sendas da vida.
Os muros se alteiam; as ondas noturnas
avisam que os barcos se foram pra sempre.

Meu corpo se encanta; a acordeona se adona
das areias mornas nos luais da ilusão.
Fantasmais, sobraram-me alguns beijos frios.

ÉS ÁGUIA

Este poema é teu, é teu somente!
Ativa-te à ousadia do meu estro,
pois em momento algum tocou-me o sestro
de imaginar-te cínica ou serpente!

És águia! Serás águia para sempre!
No universo sem pegas, virtual,
quero-te águia mesmo, sem igual,
para voarmos juntos de repente!

E não me inventes nada que transforme
este desejo nu de ter-te assim,
liberta das correntes que escravizam!

Um mundo resplendente e multiforme
de liberdade e sonho dirá sim
aos tantos ideários que fascinam!

(Inspirado na poesia “Um Poema à Camponesa)

GRAÇAS FEMINIS

Uma ardência incontida, sim, me toma,
egressa do desejo e da saudade,
como tanta ousadia que me invade
fartando-me do brio que me assoma!

Mas algo indefinido me assanhou!
Quem sabe, em pouco tu dirás o quê?
Solicito ao findar os versos: lê;
após, dize o que ao vate perturbou!

Arrisco antecipar-te: foste tu
- sem que de nada saibas – a razão
dos devaneios tais que ora proclamo!

Revelas o cantar do uirapuru:
mágico, belo, raro e dás vazão
às graças feminis em que me inflamo!

(Inspirado na poesia “Um Poema à Camponesa”)
MÃE, SER TRANSCENDENTE
Ser mais rijo não há na natureza,
determinado, ousado e corajoso,
que enfrente abismo escuro e perigoso,
do que a mãe junto ao filho, com certeza!

Desde a concepção ela se entrega
ao rigor de defesa quase insana,
resguardando seu filho que se ufana
ao vê-la vencedora nas refregas!

Senhora dos poderes da Criação,
ela traduz a força misteriosa
da Arte de ser Mãe - Arte Divina!

A Humanidade acena-lhe afeição.
Às gerações, é dádiva preciosa,
belo milagre da alma feminina!

QUIMERA

Estranhos, como não, nessa distância,
trocando confidência terna e pura,
num tratamento ao prumo da elegância,
ao zelo do elogio com ternura.

Sentidos virtuais das relações,
carícias e promessas repetidas
nos sonhos madrigais, nas sensações
que em nossa alma sentimos refletidas...

Ao lado da lareira, bebo vinho.
Eis-me entregue ao pelego, na saudade
de quem sequer o corpo eu adivinho!

Sobre a mesa, papel, caneta e a herdade
composta pelos versos da verdade
cortinando a ilusão dos meus caminhos.
MUITA SAUDADE
Se de saudade sofro tanto agora
a desejar-te tão profundamente
saudades tantas outras sentirei
para remir as culpas que ora trago

Relembro as tantas vezes que parti
sob a emoção acesa do desejo
buscando nosso encontro nossos beijos
sob a volúpia intensa da paixão

A distância porém aprisionava-me
na querência viciada doutro amor
degenerando assim teus sentimentos

Do mundo dei-te então toda a razão
quedando-me em sofrer crescente e amargo
que hoje explode em saudades sem limites

DO JEITO QUE QUEIRAS

Atiço-te, fêmea sem rédea e sem pejo,
no alvor dos meus linhos, na cama macia.
Há muito não sinto este ardor e euforia
guindando os sentidos ao puro desejo.

Apuro-te na ânsia que encanta meu dia,
que assume o supremo gozar que antevejo,
clamando a carícia das mãos, do meu beijo,
presente dos deuses que minha alma extasia.

Seguro-te firme, tesouro sem preço,
à sorte sagaz que te aninha ao meu lado,
fazendo-te presa do amor sem fronteiras.

Respira ofegante; aos teus ais aquiesço.
Assuma a lascívia do êxtase alado
e entrega teu corpo do jeito que queiras!

SOU PALHAÇO

Ganhei a sorte grande: sou Palhaço!
Levo alegria à praça e ao picadeiro;
seja o lugar que for do mundo inteiro,
na profissão do riso não fracasso!

Transformo as emoções do ser humano,
removendo a tristeza que o espicaça,
afastando-o da angústia e da mordaça,
dando-lhe sonho e voz - do que me ufano!-.

O meu nariz vermelho é bizarraço,
repito, sou Palhaço, espalho graça,
escondo a dor humana da desgraça!

Não sou mordaz, hipócrita ou devasso,
meu gesto é paz, é vida, e não chalaça!
Sou filho da quimera, eis minha raça!

SENSUALIDADE

No frescor do teu colo aveludado,
floresce a natureza dos meus sonhos,
traduzindo os meus dias mais risonhos,
certeza resplendente do meu fado!

As mãos inquietas, mornas, buliçosas;
o coração pulsante em descompasso;
o corpo imóvel, quedo e os olhos baços,
estavas noutro mundo, alma fogosa!

Sob tensão madura a me suster,
cedi meu tempo às garras da emoção,
olhando-te desnuda, venturosa!

Eras tela, pintura, e eu a sofrer,
mantive fortes a alma e o coração
diante da tua imagem tão formosa!

MERO SONHO

A chama da volúpia arde no peito,
desenha-te desnuda ao meu sentido.
Trejeitos feminis, traço perfeito,
Teu corpo atiça as forças da libido!

Sob hipnose, véu encantador,
alma lasciva, assumo o teu chegar,
como se tu chegasses ao lugar
onde habitasse o teu maior amor!

Da ilusão, sorvo a paz que mais preciso;
revelo-me presente aos teus desvelos,
encantam-me teus lábios, teus carinhos!

Mas este sonho lindo é mero aviso!
Os teus encantos, como merecê-los,
se a vida é breu, é sorte em desalinho?

OLVIDO

Não brindarei às pálpebras caídas,
olhos mortos, morada da tristeza,
mãos estendidas, alma tediosa,
certeza de esperanças sucumbidas.

Ao silêncio supérfluo, misterioso,
e ao ambiente cheio de estranhezas,
darei uma oração de despedida,
sob o protesto duro dos desejos.

Não mascarei chicletes ou palitos
no nervosismo atônito criado
pelo cenário lúgubre do encontro.

Repositório não serei às súplicas
de uma alma indiferente e distanciada
que existe para as festas da mazela!

ROSTO

Onde eu quisera estar neste momento,
não mais ouvir falar neste meu rosto?
Onde estaria agora em tão silêncio,
resguardado dos gritos da criança?

Onde longe e tranqüilo assumiria
que a dor cruel é trauma superado,
resquício desprezado dos sentidos,
incapaz de abater os meus anseios?

Ao caminhar a sós em solidão
não marcarei com rastros dolorosos
as pedras dos caminhos dos meus passos.

Reclamo do meu rosto endurecido:
é pedra que se entrega à erosão,
sofrendo as intempéries invencíveis!

NÃO SOBRA ESCOLHA

Marco os meus passos vãos nas teias dos sentidos,
desencontrados nortes, veias tensas, nuas,
nesta infortuna quadra em que me lanço alhures,
no rodapé das quedas duras, rudes, más!

Intensa é a dor que rasga o ser, invade o tempo,
anula as regras, quebra o trato do existir,
esfrega a cara ingênua e franca do inocente
ao rés do chão imundo, empório de dejetos!

O sonho arrisca a sorte em luz e purpurina;
é risco, nada mais, falácias das idéias,
produto da alma em transe, sob astúcias tantas!

Meus passos rompem pedras, visgo, lama e breu.
Meu patrimônio, só! Fazer o quê, se agora
não sobra escolha nesse trânsito de abismos?

SENSO ÉTICO

Sobre os males que trago, silencio.
Todos guardam serpentes enrustidas
e orações escolhidas e arrumadas,
para a hora certeira do discurso.

Vale lembrar, porém, do senso ético,
equilíbrio da ação de todos nós:
ela não cede termo rude ao vento,
nem libera emboscadas ou peçonha!

Cada um é o seu próprio guardião:
corrigirá o erro adquirido,
sepultando os congênitos que abrigue!

Há quem se agarre ao fel e à insensatez,
dando força e impulsão à crueldade.
Tempestade, decerto, colherá!

OUTRO PALCO

Afasto explicações, quero silêncio
para sorver a mágoa inexplicável,
os gestos mais sentidos, o olhar frio
e a decisão de nunca mais voltar!

Diante das fugas, nortes sem destino,
os descontentamentos me sufocam.
Assim, prefiro a dor da solidão,
a ter que sucumbir perdido em dúvidas!

Estando só - martírio que me intriga -,
encontrarei saídas, soluções,
castelos de ilusões assumirei!

Não pedirei motivos nem razões!
As causas, sigam todas para o inferno!
Repensarei meus sustos noutro palco!

APREENSÃO

Repensarei meus dias mais felizes,
num processo de análise profunda.
Assim, desvendarei todo o presente,
desnudando as razões de seus mistérios.

As sombras advindas, os abismos,
a angústia que a alma erode, as apreensões,
o golpe decisivo e o desatino,
estarei longe disso tudo agora!

Há pântano aos meus pés, muita urdidura,
escuridões, azares, ameaças,
projetos de elevado macabrismo!

Oponho-me à incerteza periférica;
recolho meus mijados, partirei.
Há lanças apontadas contra mim!

INGENUIDADE

Gosto da ingenuidade dos teus gestos,
sentir tua alma simples, doce, nua.
Os versos dos teus íntimos segredos,
nos teus olhos arrumam-se em sonetos.

Se a manhã arregaça a virgindade
do sol, dos parreirais e das montanhas,
a tarde e a noite mostram tua volúpia
como brinquedo raro da natura.

No leito, a grama, a terra, a flor, as águas
e a indolência das brisas perfumadas
fabricam emoções aos homens puros.

O prazer no teu corpo brinca e dança
sob a calma singela dos silêncios,
enquanto o cio explode na tua alma!

FUTURO

Amo o silêncio feito pedra bruta,
matéria indesgastável que fascina.
Os milênios rompidos são mistérios
invernados nos crânios de granito.

Afogo-me na selva verde-musgo
das tramas animais, das tempestades,
das virgens que sucumbem ao cio intenso,
dos selvagens encontros dos desejos!

Embrenho-me nas trilhas seculares,
provando o gosto agreste das quimeras,
sorvendo as águas frescas das folhagens!

Tecendo os sonhos tantos que me aquecem,
devolvo-me ao grunhido mais antigo,
tentando descobrir o meu futuro!

MISTÉRIO DAS FLORESTAS

O olor das selvas puras e intocadas
penetra meus sentidos, feito o vento
que rompe sob silvos delicados
o verde nu, espesso e misterioso.

Enfrento a travessia dos receios,
preservar a natura é uma conquista;
meu coração se entrega aventureiro
e eleva hosana à sorte que me guia!

Afasto-me dos homens que se adonam
da natureza rica que se expõe,
desprotegida às garras da ambição!

As horas se amontoam, e a floresta
aguarda que a minha alma e que o meu corpo
integrem-se ao futuro dos verdores!

ISSO ACONTECE
Ao ver-te, enlouqueci, fiz juras tantas,
e tu correspondeste às minhas ânsias.
Provei-te abraços, beijos, muitos beijos,
consolidando o mais profundo amor.

Lavraste as esperanças mais fornidas,
desnudando teu corpo aos meus desejos.
Quando partiste, foste e voltarias:
foi este o trato sólido do amor.

Em permanente espera me aprumei
durante noite e dia, dia e noite.
Então, senti minha alma esvanecer.

Agora, do que vês, não há mais alma;
restou-me um corpo frio e desvalido
a despedir-se em vão de quem não veio!

BARRO EFÊMERO
A pedra rola, esfola, martiriza,
rompe a raiz, matriz de toda a história.
A pedra empurra a sombra, o sonho, a trama,
esbagaçando o jeito cru do verso!

Diante do sangue novo dos caminhos,
o verbo perde braços, pernas, olhos,
como objeto frágil e sem sentido,
rolando inútil pela estepe rude!

Barreiras frias feitas de oração
arrojam-se confusas sobre povos,
esfacelando esperas e esperanças!

O feito consagrado vira lixo;
a estátua monolítica de bronze
transmuda-se no pó do barro efêmero!

OSSOS DO IDEÁRIO

A rede de desejos sobre-humanos
esfacela a utopia, as ilusões,
em desfavor dos santos e dos templos,
lançando ao chão milagres não cumpridos.

As rosas morrerão estranguladas
pelos cipós da crença sem barreiras,
nascida no jardim da idolatria,
ao cântico dos hinos enganosos.

Lançam-se raios sobre veias tensas.
Subidas e descidas devassadas
conturbam a lei da física primária.

São pisadas as teses e os conceitos
ao lado das fogueiras que calcinam
os ossos mal formados do ideário!

DESATENÇÕES

O silêncio dos anjos não convence,
enquanto todos cantem seus mistérios,
ao custo das maçãs apodrecidas,
do grito e da oração mais-que-imperfeita.

Na emergência da luz, das novas ordens,
a terra porá cobro à prece espúria;
cavalos são treinados todo dia
para o trabalho bruto dos arados!

As abelhas estão enlouquecidas;
dão-se à procura inútil das estrelas,
imaginando o néctar da vida!

O inverno condecora o rosto bruto
dos peões indormidos dos levantes,
mostrando-lhes o pasto da miséria!

MAL SOBERBO

Os monstros das chacinas suburbanas
- noturnos, salafrários, delinqüentes -
entregam-se às tragédias noturnais,
misturando desgraça ao dolo espúrio!

O grito do menino se entremeia
na confusão robusta dos escuros,
assustando a pobreza dos escombros,
revelando os mistérios madrigais!

A lua rasga a rua em noite alheia,
tangendo miseráveis feito gado,
em direção às rosas sem perfume!

Ao verbo destemido das esquinas,
alguém se arroja livre e corajoso,
xingando o mal soberbo e desprezível!

ABANDONO

Madrugada de sonhos tensos, frios;
casas silentes, sombras e fantasmas,
pecados anunciando precipícios,
ei-lo lançado ao breu dos infortúnios!

Sua alma é abrigo frágil, é templo inútil,
é desencontro, é verbo sem sentido,
nutrindo-se de brisas, de lembranças,
monologando a esmo, ele e a saudade.

Todo o universo, agora, virou cinza;
seus sonhos são moradas de vazios;
o tempo é carrascal desesperança!

A febre que anuncia a infecção
de seus últimos dias de agonia
é o abandono a que se viu lançado!

CONVULSÕES

Ódio concentrado, universo caótico.
Ronca a tripa, ruge a memória sombria,
barriga vazia, mestrado perverso,
zero vezes zero, ciranda da fome!

Olhos sem visão, trapo, troço, apatia!
Verdades sucumbem alheias ao tempo.
Há pódio de pulgas, baratas e cães;
desprezo, silêncio, erosão, rebeldia!

A luz das manhãs se repete nas ruas,
nas calçadas nuas, nos campos, nas vilas,
banhando cabeças anônimas, frias!

Enquanto não cessa o estrugido interior,
vulcão vivo da alma rompendo a existência,
tudo chega em dores profundas e mudas!

ROSA RARA

Rezo amofinado com deuses e feras,
aprendiz da rima sem música e sal,
senhor do meu mundo de versos algozes,
meio vírus raro rompendo a existência.

Transformo-me em parte das tramas audazes;
acordo dos sonhos e encontro miçangas
iludindo os pés, a cabeça e a visão,
mastigando o tempo e canções primitivas.

Enquanto as paredes do quarto se atiram
para os quatro lados da história mais triste,
a mulher se vai sem prazer. Doida! Doida!

Sinto a rosa rara brotando ao meu lado;
há mato revolto e tristeza nas brisas.
Balança-me o sangue num grito distante!

MEU SÍTIO DE PAZ

Há medo plantado nas sombras da tarde,
prenúncio de rondas, janelas fechadas,
silêncio de augúrio, invernal desencanto,
saudade de um tempo de amores sem conta!

Há vida lá fora morando no risco.
Estranho e confuso concerto de idéias
aturde a quietude que agora me apraz,
montando reveses que não desejei.

Assumo meu sítio de paz – monastério -,
recanto de sonhos, de livros, papéis.
São troços inúteis que acenam lembranças.

Não quero disputas, não quero vitórias,
tampouco interessa explicar meus caminhos
que importam tão pouco aos que não me convencem!

ESPERO O AMANHÃ

Mexo-me perante a mudez do teu riso,
para ganhar tempo fitando teus olhos.
Estás indo embora uma vez mais. Eu fico
sob horas sombrias, fugazes, alheias.

Tento segurar-te com versos de brumas,
fumaça e vazio. Outra vez não consigo!
Dizer ao teu silêncio o quê? Falo, falo...
Teus ouvidos moucos anulam meu verbo!

E os segundos voam, enquanto desejo
perguntar qualquer coisa sobre teus dias.
Teus disfarces marcam minha alma de olvido.

Amanhã, oh, quem sabe? Espero o amanhã,
desde agora e já mergulhado em poesia,
detendo os instantes da minha lascívia.

INJUSTIÇA

Não falo por ninguém, falo por mim,
na selva magistral de homens – anões!
Na regra do repúdio, canto o fim
do caráter levado às servidões.

Indago: qual a força que ainda resta
de firmeza, dever, dignidade,
que se assoberbe numa grande festa
e denuncie espúrias inverdades?

Fazem da covardia uma virtude,
pincelando de mérito a omissão,
no contingente enorme que se atiça.

E sozinho, meu Deus, antes que eu mude
pra outra vida, aqui marco a posição
de quem sempre lutou contra a injustiça!

M A R

O mar abriga o sonho a luta a vida a morte
o capricho ancestral da luz do som do sal
porque ele é o berço nu de todo o azar e sorte
é o ninho da criação de todo o bem e o mal

É o cofre do segredo eterno dos mistérios
da resposta fulcral que a humanidade busca
tentando elucidar na paz dos ermitérios
a dúvida sagaz que a desespera e assusta

O mar é a explicação de todo o imaginário
do aventureiro livre forte e corajoso
que se atira ao destino alhures e às procelas

Vencer este colosso é feito extraordinário
embora exija do homem um velar criterioso
Nele a grandeza do homem brota e se revela

SONHOS ANTIGOS

Há sonhos antigos que trago em segredo.
São forças que emergem no meu dia-a-dia,
vulcão de desejo explodindo em minha alma,
tornando mais viva a aventura ideária.

Renascem ativos, assumem caminhos,
dão cores à idéia de novos amores,
inspiram o esteta ao versejo sublime,
refogam temperos de ânsias sem conta.

Vivendo valores do tempo presente,
são dádivas puras os sonhos que aportam,
tocando projetos há muito esquecidos.

Os sonhos antigos, agora eles chegam,
dão força à esperança, renovam certezas,
apontam caminhos, dão luz ao futuro!

RAROS ENCONTROS

Quero a emoção dos beijos escondidos,
chantagem viva, rogo sem limites,
ao lume da lascívia traiçoeira
persuadindo a mulher que ainda resiste.

Acolho o titubeio da incerteza,
mudez e vozerio simultâneo,
nos rápidos encontros permitidos,
à luz da vela-amor indefinida.

Há montanhas de dúvidas perversas
afugentando a erótica impulsão
do desejo voraz e clandestino.

Entretanto, não quero que se esvaiam
esses raros encontros do prazer,
junto ao corpo sensual que me alucina.

NÃO DIZES AI

Ah, meus olhos feitos de vidros e raios,
visões de aventura sofrendo fronteiras,
distâncias maduras, mistérios, cansaço,
estradas e pés sobre espinhos e rumos!

Eis-me desejoso de voz e conversa,
sobre o que tu tramas e sonhas e queres!
Dá-me agora o verbo dos teus amanhãs
e então desfrutemos o instante da sorte!

Talvez descubramos na renda da fala
o canto sagrado do corpo e da alma,
o verso maduro do encontro almejado.

Sal de solidão noturnal, viva, má;
a chama fenece e tu não dizes ai.
Eu, sim, eu me esgarço na lida de ter-te!

FRUSTRAÇÃO

Traz o vento o cheiro de terra distante,
tocando o desejo, rompendo o silêncio,
roncando à memória o vigor da aventura,
como se dissesse aos sentidos: “Acorda!”

Chega a voz que chama. Remexem-se as mãos.
Sacodem-me os gritos. Avivam-se as súplicas.
Arde-me a impostura passiva das horas,
fazendo-me quedo, tornando-me inútil.

Rédeas e cabresto sem guia, sem rumo;
sabor de saudade e de amor mutilado
no rondar dos passos silentes e frios.

Vê-se que há revolta recíproca agora.
O tempo passou imergido em vazios,
legando ao presente projetos frustrados!

PRESSINTO-ME ABROLHOS

Entrego-me cru à emoção do aprender;
aprender a ouvir, a cantar, a sonhar,
a cortar amarras, sumir e sentir;
aprender de novo a pensar e viver!

Renovo-me tal como quem perdeu tempo,
achando que a poça era o céu e o oceano.
Há trava nos pés. Como não? Recomeço!
O engano emergiu; foi-se a sorte; desperto.

Retorno ao menino surpreso com a vida.
Deixo entrar o vento, recebo os murmúrios,
acolho o convite e me vou a andejar!

Mas vejo perigo no barco à deriva;
pressinto-me abrolho ao romper da manhã,
deitando na praia dos meus recomeços!

REMEMORAÇÃO

Bate o mar na amurada das lembranças.
Esqueço-me do tempo, dou-me a andejos,
seguindo embarcações, ouvindo as ondas
que ainda explodem forte na memória.

Outra vez, transformei-me no menino
que amava o mar e o seu marulho estranho.
Ao longe, as ilhas belas, misteriosas,
moradas dos meus sonhos mais profundos.

Acompanhando escolhos sobre as águas,
vivo os raios do sol, meu terno amigo,
nas longas caminhadas que eu fazia.

Por dentre as pitangueiras, beira-mar,
ao pé das praias virgens, rememoro
a infância mais feliz que se viveu!

AO AMIGO DO ALHEIO

Produzo este soneto e então me indago
sobre a carência clara do destino:
dá à luz quatorze versos enquadrados,
onde mal cabe o rosto do cretino!

Na obediência física da forma,
da tribuna da métrica converso,
tentando me enquadrar na alma da norma,
adequando na linha o vil perverso!

Ele apodrecerá; quero que mofe,
na prisão do poema, o velhacaz!
A lei da Arte se cumpra ao ladravaz!

Assim, de verso em verso, anulo o bofe,
desnudo o personagem em cada estrofe
recomendando sua alma a satanás!

LIBERDADE

Canto e procuro o rumo do infinito,
eu não sou mito, sou apenas sonho.
Vago tristonho e luto com afinco,
com a dor não brinco, pois canto e procuro.

Porto seguro, vago eternidades.
Mas que saudades sinto a toda hora
da liberdade do meu ir e vir
que eu vi partir e que se foi embora!

E canto e canto o canto de chegar!
Raio de luz! Vamos mudar! Chegou!
Eu não sou mito, sou apenas sonho!

Sob as travessas rijas do Universo,
faço caminhos, busco meu destino.
A liberdade não morreu: sou eu!

ELA CHEGA ENVOLVENTE

Ela chega envolvente, a tal saudade.
Ao crepúsculo, então, pleno arrebol,
transforma-se em veneno, é fisga, anzol,
é dor estrutural que nos invade.

Na ardência dos vazios, sofrimento!
Retornar é esperança tola, inútil,
traduz-se na ilusão da espera fútil,
revela-se o prazer levado ao vento!

Madrugadas, manhãs, tardes e noites,
estágios temporais da alma sem rumo,
acenos de um destino sem pousada!

Saudade é revivência sob açoites;
é vida atribulada e em desaprumo;
é futuro de abismo e encruzilhada!

UM POEMA QUE DONA ZITA COMPORIA
(Ao seu filho Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido político)

Sob esperanças frágeis, muita luta,
ora explosão de choro, ora gemido,
vendo meu filho alhures ser banido
pelo poder vilão da força bruta!

“Mãe Zita” – ele diria agora – “esqueça
da lesão aos direitos, da tortura,
da corrosão social, da ditadura,
dá-me teu colo, estou aqui, me aqueça!”

Diria mais a seus irmãos e amigos,
ao povo e mesmo aos títeres de lama:
“O sonho continua, mais se viça!”

Sofreu dores injustas, vis castigos;
porém, hoje é memória que se inflama,
a requerer reparos e Justiça!
IMPRUDÊNCIA

Sob dúvida atroz, vai-se em frangalhos
o esforço dos projetos sociais.
A família esquecida hoje sucumbe
ao lado da esperança descartada!

Os grupos de extermínio fazem festa,
após o assassinato de crianças
egressas da miséria absoluta,
reinante nos bolsões dos sonhos vãos!

Os cofres do Governo são saqueados,
reforça-se o vigor peculatário
na universal orgia safardana!

É febre esse desmando, essa anarquia!
É abuso esse desprezo a quem tem fome!
É imprudente o rompante das elites!
(Pelotas,RS, 1989)

PLANILHAS DESATENTAS

Multiplicam-se os pobres e as tragédias.
No seminário errático das dúvidas,
acodem projetistas de plantão
tentando as soluções uma outra vez.

Há muito atoleimado atravessando
o sentido contrário dos acertos.
Há burros empacados nessa história,
há muitos interesses nesse jogo!

A fome assume a história das andanças,
enquanto os contingentes sem destino
amargam desgraçados desencontros!

Os séculos são bocas desdentadas
engolindo indistintas aventuras,
forjadas em planilhas desatentas!

IMPOSIÇÕES

Ao poder sem limites do destino,
entrego minha vida, meu futuro.
Nestes tempos de caos, de desatino,
não vislumbro certeza no que auguro.

No concerto dos planos pessoais,
a ingerência de estranhos é constante,
amalgamando assuntos vis, banais,
levando a orquestra a notas dissonantes.

Instaurando-se a crise individual,
projeta-se meu ser às confusões,
imergido em vazio colossal.

Neste processo amargo das ações,
anula-se minha alma sob o mal,
aturdida a sofrer retaliações.

SONETOS A MANCHEIAS

Desejo escriturar belo soneto,
envelopá-lo e após te remeter.
A inspiração, burilo ao meu prazer,
e os tantos decassílabos prometo!

Dois quartetos, no entanto, e dois tercetos
representam morada insuficiente
para abrigar o amor grandiloqüente
que me atiça aos impulsos insurretos.

O formalismo da Arte não dá trégua,
mas forja solução mais que perfeita,
de molde a amplificar o meu querer:

Se o soneto me obriga o uso da régua,
lavra-los-ei sem peia,ó musa eleita,
até que o amor sobeje no teu ser!

FESTIM DE CRIMINOSOS

(Ao espírito de Justiça do dr. Ivo César Netto, brilhante Procurador de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul)

Nas comemorações da chã vitória,
onde o brinde se eleva às injustiças,
os gritos de hip! Hurra! são nauseantes,
pois é o prenúncio forte das mazelas!

Na passeata absurda do festim,
quando a anarquia afirma os convocados,
é lida a decisão protegedora
dos crimes abjetos dos lacaios.

Não é de surpreender o regozijo
do grupo dominado pelos erros,
festejando a abertura das prisões.

E neste torvelinho trambiqueiro,
o respaldo oficial empresta as honras,
ratificando os fatos imorais!

CIÚME

Ciúme desgraçado que me mata!
Do teu belo sorriso, desconfio;
pelo cheiro, imagino-te no cio.
Transformei-me num vil psicopata!

Assaltam-me ridículas visões!
Nos braços de outro amor, vejo-te agora;
minha alma tola e frágil então deplora,
não a ti, mas as minhas sensações.

Que confusão mais louca e sem limite
assume a presidência deste caos,
confrontando certezas e ilusões!
Morrerei ao rigor das conclusões,
num fadário de olvido frio e mal,
na dúvida sagaz dos meus palpites!

REMOENDO O PASSADO

Um silêncio patético me envolve,
sinto o manto da dor e da saudade.
É a força da lembrança que me invade,
é o sonho não cumprido que me move!

Vivo sombra e motim, pragas da idade
- abismo e caos que emergem da memória –
tecendo uma pungente e atroz história,
a revelar tristezas e verdades!

Eventos dolorosos do passado
chegam-me duros, ásperos, matreiros,
reavivando fantasmas esquecidos!

Entregue ao pranto, agora vence o enfado,
revivendo o destino dos herdeiros
que ao invés da riqueza herdam encargos!

MEROS MORTAIS

Somos a podridão materialista,
arremessada ao jeito da incerteza.
A decisão que resta sobre a mesa
é trabalho da morte calculista!

O arrojo da banal quiromancia
termina em pasto à dura realidade,
pois não basta mostrar a identidade
do sonho, da esperança e da magia!

Na impulsão do viver, a preferida,
de todos os destinos que se enfrente,
é a desgraçada morte, é a vã partida!

É fato que estremece toda a gente,
basta que o véu do luto encampe a vida
de rico e livre ou pobre e dependente!

BRADO URBANO

Um cheiro nauseabundo de miséria
envolve o espaço inútil que me enlaça.
Nas ruas da metrópole a desgraça
sacode o meu sentido e faz pilhéria.

Chegará o momento do meu grito
para acordar a gente soçobrada,
levantar moribundos da calçada,
livrar o ser humano dos conflitos!

Crianças, jovens, homens, vulgos, mitos,
almas nuas tomadas de amargores
dão-me a visão macabra dos horrores!

Desejo solução para os aflitos.
Que ponham cobro às dores dos conscritos
nesse exército de seres sofredores!

DOR DE AMOR BANIDO

Revelo a dor madura, intensa, fisga de aço,
afronta sem limite às caras ânsias da alma,
diante do amor desfeito, etéreo, vago e amargo,
que após promessas tantas riu-se e foi-se embora.

É dor voraz que mói, rasgando o tempo e a sorte;
é senso interrompendo a reza, a paz, o rumo,
devoração de sonho, artérias nuas, frágeis,
a última esperança, adeuses, nunca mais!

Ah, dor mais que profunda a latejar no âmago,
mãe da saudade intensa, mãe das rezas cruas,
és sombra,trevas, filha espúria do desprezo!
A dor da alma banida é breu, é puro fel;
desatino, desgosto atroz, amor desdito.
Pudesse eu te daria às hienas e urubus!


EIS QUEM ÉS

És tu a irmã mais próxima do horror,
pois trazes camuflados em teu seio
a torpe ingratidão, o ódio e o meio
de aniquilar, matar ou causar dor.

Perversa, és calculista, és insensível,
és lâmina na carne, rogas pragas;
a relação bendita e sã tu estragas,
tramando nas caladas, invisível!

És tu quem trais, delalatas, atraiçoas,
serpente das serpentes, maliciosa,
demônio que de males a alma peja!

Aos bons, tu sacrificas e esbordoas,
cheia de si, confiante e glamurosa,
trazendo oculto o nome torpe: inveja!

INÍCIO DO FIM

Aproximam-se as sombras, chega a noite;
o tempo aligerou-se, sinto a morte,
trazendo o funeral que espanta a sorte,
na dança da alma entregue sob açoite.

A voz da juventude e da criança,
fantasmas renascendo dos abismos,
demonstra dor, tristeza e pessimismo,
enquanto imerge o canto de esperança.

A matéria reveste-se de negro,
eclode a voz nojosa dos arreglos,
promete encanto, estradas eternais!
Do espaço etéreo, a festa macabrosa
noticia que a tumba misteriosa
é o início do fim, é o nunca mais!

OPERÁRIO-PRANTO

Solto o tempo no vagar da sorte,
como a morte no trilhar do sonho.
No infinito do cantar sombrio,
colho o fruto do sofrer eterno.

Divagando no saber estranho,
conhecendo a força do mistério,
argamasso a construção da vida
sob as luzes de um querer sublime.

Maldizendo o que recebo em troca,
nesse evento de trocar amores,
vou-me ao largo no meu fado enfim!

Prisioneiro deste pesadelo,
ferve o sangue do operário-pranto,
ao rigor de uma emoção profunda!

SAUDADES
(Ao Ínclito Magistrado Gaúcho Moacir Danilo Rodrigues)

Desperto à natureza mais ferina:
é a que provoca a acerba transição,
em silente labor de enucleação,
levando-nos um dia à triste sina.

Refiro-me à matriz da desventura,
a forja da saudade e do sofrer:
o tempo, esta abstrata varredura
que erode instante a instante nosso ser.

Verdugo, em gáudio vil, nos lega a glória
do desgraçado arquivo da memória,
trazendo-nos a dor e muitos ais.
O tempo! Ele passou, deixando a história
das crianças nos atos sentenciais,
retrato de Moacir Danilo Paz!

TOLO

Sou tolo. Revivo os encantos dos lábios,
dos túmidos seios, da pele macia,
da sorte mais terna diante dos sins
brotados do arrojo lascivo e aquiescente!

Sou tolo. Relembro os arroubos dos beijos,
os corpos suados e ardentes na alfombra,
as juras secretas de augustos enlevos
e a doce ventura do amor infinito!

Sou tolo. Na soma perversa dos anos,
nos dias de chuva, de vento e de frio,
há sonhos antigos tramando martírios.

Sou tolo. Vidraça embaçada, invernia,
onde é que me encontro neste hoje de agruras,
sofrendo os engodos da amarga utopia?


ESQUECER

Na taça de cristal dos meus sentidos,
sorvo o maduro vinho da saudade,
enquanto um rigoroso inverno invade
as lacunas de amores não vividos.

No epicentro das dores que colhi,
longe do beijo ardente que eletriza,
distante da lascívia que eterniza,
a solidão confirma o que perdi.

O tempo do sofrer são horas cruas,
apresenta-se duro, carrascal,
diante da vida azul que não provei.
O acervo de ilusões atiro às ruas
- olvido sem limite a tanto mal! –,
desejando esquecer o que sonhei!

PRESENÇA

Ardência sem conta, minha alma incendeia,
meu corpo se alinha à emoção do desejo,
meus lábios se aprontam aos múltiplos beijos,
enquanto meu sangue borbulha nas veias!

O encanto da noite remexe a libido,
transforma meu corpo em nudez de emoção,
prepara o momento onde nula é a razão
ditando os domínios do amor mais sentido.

Ao ver-te, o universo se aquieta aos meus ais;
meus olhos rendidos às ânsias lacrimam,
enquanto tua voz murmurosa me enleia.

Então, desejando-te mais, muito mais,
Abraço teu corpo, os sentidos se animam
e o tempo se queda ao prazer que permeia.

PALHAÇO

Palhaço! Seu lugar é o picadeiro,
o circo é o universo sob lona.
Piadas, violões, bumbos, sanfona,
sua vida é a ilusão do mundo inteiro!

Atira serpentina, pó, confete,
mulambos, água, bolas e farinha,
espalhando as mais belas das florinhas,
fazendo piruletas, pinta o sete!

Na Arte Circense, é o mais brilhante atleta;
a magia do sonho está nas veias;
no pódio ele detém vaga cativa!
As dores do palhaço são secretas.
Lamentar-se é emoção proibitiva.
Seu destino é alegrar a vida alheia!

DERIVA

Nas sombras noturnas, às margens do tempo,
confuso me entrego à saudade e às lembranças.
Misturam-se os fatos; recordo a confiança
na mútua afeição transmudada em alento.

Sozinho, hoje vivo a tristeza que assumo,
cortando a cidade, vivendo nas ruas,
perdido em mim mesmo, sentindo a alma nua,
refém de um amor hoje exangue, sem rumo.

Nos subterrâneos do choro sem freios,
abrigo a certeza de um sonho acabado,
das ânsias sem volta, de um grito sem voz.
Sou nada no agora, perdi meus esteios;
lançado à deriva me vejo embarcado
na nau da tragédia, do caos mais atroz!

SISANC

Se de saudade sofro tanto agora
a desejar-te tão profundamente
saudades tantas outras sentirei
para remir as culpas que ora trago

Relembro as tantas vezes que parti
sob a emoção acesa do desejo
buscando nosso encontro nossos beijos
sob a volúpia intensa da paixão

A distância porém aprisionava-me
na querência viciada doutro amor
degenerando assim teus sentimentos

Do mundo dei-te então toda a razão
quedando-me em sofrer crescente e amargo
que hoje explode em saudades sem limites

REVOLTA

O náufrago social que andeja ao léu,
suplicando socorro em cada esquina,
é fruto de omissão mais que assassina,
assoberbando o sofrer do povo incréu.

Não dá para entender que seja sina
permanecer no mesmo carrossel,
sob a desgraça atroz de negro véu,
porquanto o sol a todos se destina.

Sob promessas vis da camarilha,
eleita pelo voto dos plebeus,
vão-se outros contingentes às calçadas.
O discurso farsante que enrodilha
a troupe sofredora de sandeus
produz revolta assaz encarniçada!
(1997)

CONGRESSO NACIONAL DA INSENSATEZ

Desculpas eu me peço, às claras, penitente,
pelo sufrágio deletério que elegeu
a chusma torpe de demônios que regeu
este Congresso que enganou a tanta gente!

E eu me desculpo sem limite; aconteceu,
sob promessa demagógica, indecente,
de ser meu voto o mesmo voto dessa gente
que sob o engodo da vileza ensandeceu!

Sofrido, o povo leva mais uma bordoada,
perfeito sparing social tomando murros,
decepção que se sucede uma outra vez.

Brasília, ninho antigo, alegres revoadas,
felizes bonachões, enquanto o povo, aos urros,
requer justiça contra tanta insensatez!
(Pelotas, RS,1989)

OMISSÃO

As liberais políticas perpetram,
contra os povos sofridos das Américas,
os piores males públicos da história.
Enquanto isso, as elites sugadoras

esbaldam-se nos cofres do Tesouro.
As regras emolduram-se aos desejos
de sub-reptícias vocações.
São coronéis, chefetes regionais,

caudilhos, ditadores, puxa-sacos,
um bando de calhordas segregando
parte do povo, a menos aquinhoada!

A mídia silencia astutamente,
se a turba é aristocrática e reclama
da falta de dinheiro em suas burras!

PSICOTERAPIA: RECOMENDO!

O neurótico mescla a insanidade
à sanidade alheia, à paz reinante.
Enviá-lo a tratamento psiquiátrico
é a vontade, evitando suas garras!

As crises emotivas, sem valor,
quantas vezes burlam tanta gente!
Enquanto a hipoplasia sexual
e a frigidez ataquem, não importa!

Que ele se veja, então, com sua amante.
Quanto a mitomania ganha a cena,
carrega gente séria ao cadafalso.
Psicoterapia: recomendo!
Dia-a-dia, satura a convivência
com gente que não passa de arremedo!

NEUROPATAS

Conviver com pessoas que reprimam
tendências neuropatas definidas
é temerário, um risco perigoso,
diante das tramas tantas que as habitam.

Obstadas na ação da falcatrua,
qual movimento assinam as histéricas?
Tratados delineiam tal neurose
ao prisma das vantagens econômicas!

O desejo comum é ceifar vidas;
a vítima provável então será
o rival que lhe tolha o ato vil.
Impossível a morte, eles definham.
Nos tiques sucessivos de seus gestos
transformam-nos em pára-raios de ódios!
1983

LÍDERES DE LATA

A estranha sensação que ora me toma
deriva da presença de pulhastros
na tribuna das nobres comandâncias,
tisnando instituições republicanas.

Verdade desbotada, algo me lanha
rompendo minha alma, a sorte e o meu destino.
Mas o homem é doutro norte, é caçador,
tiro certeiro contra a peste pública!

Representantes de altas imposturas,
amamentando chusmas microcéfalas,
tecem planos bandidos nos palácios.
Ficar assim não pode, é podridão;
a vergonha na cara há de nascer
nos líderes de lata de plantão!

2000

MESTRES

Há muita gente estúpida, sandia,
recalcada, caroço, casca humana,
rebotalho gerado pelas bruxas,
coisa à-toa, chorume dos lixões!

Entranha cadavérica, sem alma;
patifaria, abrigo de sordícias.
É a crítica enfadonha dos acertos;
é a escurril protetora das elites.

Gente nojenta, albergue dos desmandos,
é o putrefato cheiro das loucuras
que emana dos recônditos da fera!

São esses nauseabundos moralistas,
mentores das tragédias que avassalam,
das gerações os mestres norteadores!
1997

PELEJAS SENSUAIS

Eu te farei perdida nos meus braços,
dar-te-ei amor, serás pulsões febris.
Convocarei teus seios, teus quadris,
tua boca, teus ninhos, teu regaço!

Conhecerás um templo de explosão.
Teu corpo enlanguescido encantará.
Num momento o universo ofertará
o gozo, a transcendência, a evolução.

Teu íntimo maduro de desejo
grunirá como as feras ancestrais.
Então, serão meus gritos e os teus ais!

Sinto ardências nos lábios e antevejo
que em pouco - insaciáveis animais! -,
emergirão prazeres, muito mais!

PRUDÊNCIA

Medito à sombra amiga da prudência.
Como seguir em meio ao breu e às feras?
O espírito impulsivo se detém
sob a elucubração da sensatez.

Encontro no desdém arma segura:
servirá como antídoto às vilezas.
Na jornada, enfrentar com altivez
o parvo e o mequetrefe dos assaques!

Proibir a presença junto aos pés
do pelego que lambe - e depois morde -,
em subserviência repulsiva!

Distante do rebanho capachado,
lançá-lo ao precipício do esquecer,
salvaguardando as nossas inteirezas!

GUERRAS

No hediondo espetáculo das guerras,
habitat dos guerreiros sanguinários,
o herói produz a morte em luta atroz,
emergência do instinto mais perverso.

No pipocar das forças combatentes,
os neurônios se arrumam em confusão;
o ser humano passa a ser um bicho,
reveste-se o sensato de perverso.

A aguda estrategia belicosa
nalguns mais se acentua, mais se firma,
no avanço da batalha do extermínio.

Assim, com o tempo, a luta mais renhida
revela o contingente das neuroses,
senhores da medalha dos possessos!

TESES POSTERGADAS

Nos escombros das teses olvidadas,
germina a força pura das tragédias.
Pelo poder despótico alijados,
transformam-se em guerrilha os ideais!

Clandestinos exércitos guerreiam,
enfrentando trincheiras de mistério.
O fel da iniqüidade é o alimento;
da lágrima da dor renasce o sonho!

Num de repente, explode o povo inteiro,
movido pelo sangue de Justiça,
rendido ao chamamento da verdade!

E deste Tribunal gigante ecoa
a sentença lavrada em luta ingente
consolidando teses postergadas!

TEU SILÊNCIO ME MATA

Não precisava escrever muito pra dizer-te
que os sentimentos meus estão todos voltados
aos teus caminhos, aos teus fados, teus encantos,
sob o desejo, enfim, de ter-te nos meus braços.

Para que tanta inspiração, tantos poemas,
como os que escrevo às noites frias e vazias,
mostrando à tua incerteza o amor ilimitado,
se ele é a verdade mais profunda que me habita?

Não precisava falar mais sobre este assunto;
ele aniquila devagar os meus sentidos;
é uma constante de loucura a me aturdir!

É um tresvario o meu agir, já me conheces;
não apoquentes mais minha alma, minhas horas;
este silêncio teu me mata, me devora!

MUDANÇA

Enquanto à tempestade singra o barco,
seguro sobre vagas, sem vacilos,
o timoneiro acode aos horizontes
buscando que a esperança não feneça.

Sem avaria, as ondas se sucedem;
não periclita a fé, a nave segue.
Ressumbra a história, então, das aventuras,
recordam-se tensões mais opressoras.

No breu do mar revolto, ei-lo sozinho,
capitaneia a nau - sua existência -,
descobre que faz parte da tormenta.

Como tudo na vida se transmuda,
da escuridão se fez bela alvorada,
e de alma forte fez-se o mar sereno.

DESPREZO

No escalafrio atônito da inveja,
no leito hospitalar dos vagabundos,
deito os olhos cortantes de desprezo,
na iminência de um breve funeral.

Nas negociatas reles dos sentidos,
arde a cobiça torpe que desonra,
câncer que se faz peste abominável,
carcoma da alma impura, envilecida!

Imune às regras vis do sentimentos,
cavalgando em planuras do existir,
assisto às frustrações do andar de cima.

A seta envenenada dos fracassos
jamais atingirá o objetivo,
se o desprezo manter-se como escudo.

CHAMAR O FEITO À ORDEM

Na inconsciência traumática do tempo,
levando de roldão meus ideais,
traduzo muita dúvida e martírios,
desconforme com a falta de paciência!

No processo de trâmite moroso
para ajustar inúmeros problemas,
o tempo indesejado se intromete,
levando a decisões fora de prumo!

Sob convicção desordenada,
construção açodada do juízo,
esfacelam-se planos e conquistas.

Premido por freqüentes desajustes,
lavrados pela pressa atabalhoada,
LUTA

Arde o silêncio, ele consome o tempo;
traduz idéias de confusas metas.
A solidão carcome o viço e a fé,
erode o sonho, afoga as esperanças!

No corpo quedo ao peso da existência,
a sombra avulta na alma fria e nua
- pedra e metal no coração sem força -,
enquanto gira o corpo inerme aos ventos!

Sob os moinhos das tragédias tantas,
vozes sem boca rugem seus pecados,
proclamam guerra à liberdade e à vida!

Sob as esperas ao redor dos sonhos,
trazendo cargas de ancestrais mistérios,
eis muita gente em orações profundas!

PECADOS, PECADOS!

A carga é bruta, estranha, vil, fatal!
Homens, mulheres, crianças, anciãos,
exército azoado, ronda triste,
triscam diante dos riscos, dos abismos!

O que trazemos sobre nossos passos,
senão pecados capitais desnudos?
A chave gira e não liberta a culpa,
enquanto antigas emergências ferem!

Constrói-se o desatino rompedor,
amargo, bruto, rédeas frouxas, visgo,
anúncio de passagem para o além!

Evoca-se a celeste provisão
de sorte e remissões a certa altura,
porque há momentos rudos de tremores.

RECOMEÇO

Amigo, eu me despeço, partirei.
Convida-me o futuro, a eternidade.
O sono mais profundo que sonhei
Agora me alicia de verdade.

Saudade? Ah, claro! Sei que a sentirei,
Mas ouça a confidência, meu amigo:
Logo logo estarás então comigo
e... para que saudades? – Eu direi.

E lá, nessa distância indefinida,
talvez encontre a desejada ermida
para elevar hosanas aos amigos.

Eis, portanto, o caminho que ora sigo.
Tua vez, aguardarás, e ainda te digo

DISFARCES

A cada passo, o sentimento finge.
Sorris perante todos, nada faço.
O espírito reclama em mil queixumes,
enquanto de ciúmes eu me afundo.

Pelos salões, disfarço, me resguardo;
não desejo que a gente sem visão
perceba que os meus olhos te acompanham,
somando-me às paixões aventureiras!

E quando ouço teu nome pronunciado,
transformo-me, disfarço estar distante,
mascarando o sofrer do anonimato.

Rendido num supremo desconsolo,
carrego o coração dilacerado
sob silêncio amargo, colossal.

MISTÉRIOS DOUTRAS TRILHAS

A tarde se despede, chega a noite.
Despontará, em breve, a madrugada.
Na quietude das ruas, quase nada
se distingue das chagas dos açoites!

Caminho, chuto troços, levo sonhos.
No rosto, há vento frio e escuridade.
No coração, há medo de verdade,
há sombras fantasmais, seres medonhos!

Rompo o silêncio adulto dos felinos;
rasgo a selva das fêmeas excitadas;
atravesso calçadas de mistério!

Pressinto no amanhã outro destino,
cansei-me de trazer a alma assombrada.
O que desejo agora é um monastério!

NADA MAIS HÁ QUE IMPORTE

A tarde se despede, chega a noite.
Despontará, em breve, a madrugada.
Na quietude das ruas, quase nada
se distingue das chagas dos açoites!

Caminho, chuto troços, levo sonhos.
No rosto, há vento frio e escuridade.
No coração, há medo de verdade,
há sombras fantasmais, seres medonhos!

Rompo o silêncio adulto dos felinos;
rasgo a selva das fêmeas excitadas;
atravesso calçadas de mistério!

Pressinto no amanhã outro destino,
cansei-me de trazer a alma assombrada.
O que desejo agora é um monastério!

SOSSEGO COMUNITÁRIO

Num piscar, os incautos são driblados
sob o manto abusivo dos falsários.
A regra é o surrupio e tudo vale,
nas sub-reptícias emoções.

No afeto engodatório dos calhordas,
órfãos, velhos, crianças e viúvas
soçobram indefesos e esmagados
pelos ardis das burras vivaldinas.

Avulta o latifúndio dos cretinos
sobre a herdade dos bons, dos sem malícia,
da sociedade vítima das petas!

Que a borduna moral do Judiciário
ceife a ação delitual dos ardilosos,
reimplantando o sossego nas comunas!

ENCONTRO DO PRAZER

O fogo és tu quem trazes como lema;
é fogo de desejo, é ardência pura,
justifica a inteireza e a formosura
do corpo que me entregas, belo emblema!

Tu me devoras; linda, me suplicas,
trêmula e nua, doce e cativante.
Entregue às emoções, libido incitas;
transcendo aos meus suspiros, ofegante.

No assomo dos arrojos luxuriantes,
multiplicas teus beijos cativantes,
ao tempo em que te envolvem meus encômios.

Ao vento da magia desse instante,
dilacera-se a trama dos neurônios,
assume, então, nossa alma mil demônios!

SONHOS E SONHOS

As luzes dos brinquedos que se acendam;
abram-se os vinhos nobres da ilusão.
As mãos debulham sonhos pelos pátios;
os olhos desintegram sentimentos.

Os filhos reconhecem pais cansados
e a vida inteira seguem como órfãos.
À espera da estação que nunca chega,
derramam-se diamantes pelas mãos.

No frescor das manhãs primaveris,
a emoção enrodilha-se à ilusão,
transformando o viver em farsa nua.
A sorte é fantasia, é alma em transe;
é purpurina, risos e confetes.
Muito pouco da vida incute medo!

PRESSENTIMENTO

Pressinto a força cósmica das horas,
transcendentalizando os meus desejos.
No espírito oprimido o relampejo
da morte miserável me devora.

Ouço o tempo agitado lá de fora,
agouro transmissor do que pressinto,
qual me fora chegada a má senhora
sob o capuz dos negros absintos.

Acode-me lavrar um testamento,
gravando o corpo nu da lousa estranha,
contra a repartição do verme insano.
Porém, nada mais resta ao sentimento;
o corpo e alma pertencem à louca sanha
do inflexível além, frio e profano.

AO DEPOIS

Os corpos cavalgam rompendo limites,
quais ondas sem freios de intensa explosão.
É arrojo de forças que bate, que lanha;
é caos de consciência, é nau à deriva.

O sangue efervesce, qual lava vulcânica,
enquanto o animal contamina as ações,
domina aventuras, assume o presente
aos gritos confusos das eras remotas.

Desejos em chamas, os corpos dopados
mergulham num tempo de puro mistério,
na doce florada do cosmo sem fim.


Ao depois do erótico embate, a exaustão
frouxa a nervatura da carne saciada,
que cede lugar ao império do tédio.
SERÁS SENSUALIDADE

Quero o gesto das mãos como brinquedo,
seja o teu beijo pura fantasia.
Ao lume da ilusão que se faz chama,
decifrarás o amor devagarinho.

Ao inteiro dever do verbo-encanto,
entrego a frase ativa do meu sonho,
para em volteios livres de pressões
fazer-te entregue aos jogos das carícias.

Na quietude da noite faço festa,
com meus versos elétricos, sem rima,
dando curso à emergência da libido.

E quando finalmente despertares,
sob a maturidade da lascívia,
serás sensualidade à flor da pele

CORRENTES

O que jamais vivi, revivo intensamente,
lavrando a história da ilusão sem preconceito,
deixando minha alma em devaneio, livre, nua,
cantando o que foi sonho em versos de prazer.

Desnudo amantes que não tive, dou-lhes beijos,
deito seus corpos nas alfombras guarnecidas
e alcanço o gozo repetido nos mistérios
da conjunção do amor sublime e das libido.

No dadivoso mergulhar da alma nos sonhos,
emerge o esteta e a inspiração concupiscente,
multiplicando a poemática dos êxtases.
De verso em verso, o canto assume as horas tantas
do que jamais vivi, mas que sempre senti,
acorrentado à farsa e às tantas frustrações.

DEGENERAÇÕES

Arde o silêncio consumindo o tempo,
trazendo idéias de confusas metas.
A solidão carcome a vida e o viço,
defenestrando as esperanças tantas.

A sombra avulta na alma fria e nua,
pedra e metal no coração sem força,
enquanto gira o corpo inerme em sonhos,
sob os moinhos das tragédias vivas.

Vozes sem boca, edificando o medo,
passeiam livres ao redor da espera,
assoberbando a carga estranha e bruta

que em vão trazemos junto aos nossos passos.
No caldeirão que ferve é só loucura,
é tiro, é soco, é sangue, é morte, é medo.

AMOR QUE DELIRA

Instantes são chantagens aplicadas
e beijos são tramóias temporárias.
As verdades inteiras são neblinas
que embotam quantas vezes a consciência.

Não haverá caminhos de reencontros,
horas marcadas, horas decididas,
ou mesmo pensamentos prolongados,
sobre as sensações fortes que vivemos.

Também os horizontes escurecem,
e eis que a fugacidade das mãos juntas
não passam de uma quadra de promessas.
A vida muda muito no outro dia.
A vida muda sempre, ela é mutante,
é a desgraça do amor que hoje delira!

“PARA ONDE FOSTE?”

Recebo-te feliz, após romper
madrugadas, abismos, precipícios.
Tu desapareceste e desde o início,
marcou-me a solidão, férreo sofrer!

O tema de teu canto me restaura;
teu verso forte, nu, lúbrico e doce,
mesmo virtual - e seja lá o que fosse! –
transmuda-me em energia, faz-me um taura!

Voltas trazendo encanto e novidade,
mil causos construídos não sei onde,
que agora dás à luz, não mais escondes!

Sinta o áspero amargor, sinta a saudade
que deixaste ao partires desta herdade,
forçando-me a indagar: “Para onde foste?”

AGUARDA!

Este colo desnudo me fascina!
Eu sei que é tela, é tinta, é inspiração;
e sei também que é fonte de ilusão
esta bela mulher, quase menina!

Resisto às veias tensas e à emoção.
Entretanto, o desejo me ilumina
mostrando que seu corpo é a minha sina,
vertendo descompasso ao coração!

Confuso entre o real e a fantasia,
aos pés da lascivosa imagem nua,
venero cada curva de seus traços.
Um passarinho esperto disse um dia:
“Aguarda que ela ainda será tua
e deitarás feliz em seu regaço!”

TEU RETORNO

Recebo-te feliz, após trilhar
durante tanto tempo o abismo escuro.
Tu te lançaste ao fado mais impuro;
fiquei sozinho, entregue ao meu azar!

Agora, o teu encanto me restaura;
teu verso de ilusão, lúbrico e doce,
mesmo virtual - e seja lá o que fosse! –
transmuda-me em energia, guapo taura!

Voltas trazendo sonhos, novidades,
nos escritos lavrados não sei onde,
que agora dás à luz, não mais escondes!

Calei-me no amargor e na saudade,
pois foi o que legaste de verdade,
deixando-me a indagar: foste pra onde? (verificar poema parecido!!)

CRIMINALIDADE

Há sombras e orações, tiros e dores;
fuzis, metralhadoras e granadas;
há medo nas famílias enganadas,
sob o ferrete e sanha dos rancores.

Há tempo emerge a inércia do Poder;
apuram-se no caos as omissões;
Fez-se decreto o ror das podridões.
Quem é o responsável, onde o dever?

Esfacelada a carta dos costumes,
ao olvido os princípios de respeito,
as regras esboroam-se na lama!

A criminalidade vil assume
as rédeas sociais para o malfeito,
sob a revolução de ações insanas!

VENTO

Um vento estranho ruge na montanha,
nas areias noturnas, nos jardins.
Vento que chega rude, solitário;
vento do mar que erode penedias,

voz da procela, vezo enigmático.
Esse vento se guarda num mistério:
ele é das noites nuas aflitivas,
não sei onde ele nasce, de onde vem,

mas chega e segue à sombra madrigal,
mordendo o tempo efêmero da vida,
mascando o freio injusto da existência.

Não sinto medo; toma-me a coragem
de romper este vento a qualquer custo,
nem que o faça de vez meu companheiro!

MEREÇO MEUS FLAGELOS

Minha alma sucumbira ao rés-do-chão,
na madrugada atroz do rompimento.
Havia caos, tristeza e desalento;
havia desencanto e solidão.

Chorei. Bebi. Fumei. Que desespero!
A manhã ressumou frágil, de luto,
lançando um grito atroz, um grito mudo,
compartilhando a dor do mundo inteiro!

Este sofrer persegue-me faz tempo;
meu coração rendeu-se ao descompasso;
contemplar o passado, eis o que faço!

Revelei minha culpa em sacramento;
dos fatos, as razões de cada evento.
Sou dono dos flagelos por que passo!

ESQUEÇA-ME DE VEZ

Se do fatal silêncio que impuseste
brotaram duvitezas tão pungentes,
deixa-me quieto agora, não me tentes
trazendo à baila o amor que não quiseste.

Do abandono, o escombro não revive;
situação dos amores sepultados,
de cujos fatos, todos arquivados,
não existe lembrança que os avive.

No assombro da amargura mais crucial,
eis-me aturando a vida menos mal,
sobre os espinhos tantos das procelas.

Doravante, desejo o manancial
de uma vida ditosa, sem seqüelas,
aprumando-me longe das querelas!

INVERSÃO

No astuto estratagema dos velhacos,
onde sobejam regras sem princípios,
deploro o conduzir-se envilecido
que ao ferir o indivíduo atinge a classe.

De súbito, esporeiam quem defende,
solitário, os direitos do excluído,
perpetrando-lhe golpe traiçoeiro,
qual fora a voz certeira da erronia!

É o agir emergente da vindita,
sustento do interesse inconfessável,
consolidando a glória dos farsantes!

Tanta a contradição em tal debate,
Que avulta realidade insofismável:
Ganha o réu à tribuna acusatória!

ALMAS CARENTES

Quem és - mulher ou ninfa caçadora? -,
confesso-te, não sei, mas me ardo todo
na aventura que rompo com denodo,
buscando uma resposta alentadora!

E no voraz assomo dos anseios,
despertamento mágico das almas,
pressinto-te ao meu lado, ardor sem traumas,
lúdica, entregue, solta sem rodeios!

Senti teu beijo um dia assaz candente;
lascivosa, buscavas por prazer,
mas foste e me deixaste a ensandecer!

O fado que pressinto está evidente:
distantes eu e tu, almas carentes,
legaremos o amargo do sofrer

ILEGALIDADES

A atmosfera densa e fria é um pesadelo,
fruto da angústia acerba e crua que me envolve;
cedo às idéias paranóicas e abismais,
sob os impulsos do inconsciente em convulsão.

A intransigência dos conceitos obscuros
é emaranhado que me lança ao vil degredo,
é afronta, é sanha de demônios desgraçados,
no infeliz e cruel domínio das mentiras!

Que um risco só de força e vez ainda me reste,
lança-lo-ei sem medo e freios aos discursos,
vociferando contra idéias impostoras!

Sinto-me só, ao desabrigo e sem defesa;
quero respaldo neste embate contra os males,
onde os engodos proliferam contra as leis

RETA FINAL

Volto os olhos cansados. O que vejo?
Ah, sombras e aventuras muito antigas!
Reviver, nunca mais! Não voltarei.
A esta altura, o futuro é uma utopia.

Ao descompasso, atrevo-me a seguir,
pleiteando a força ausente que me foge,
seguindo a mesma trilha do menino,
no andar debalde, livre, isento e alhures.

Badala o sino, aviso do amanhã;
ouço conselhos sobre os infortúnios;
sigo meu rumo à esteira das entregas.
Entardece. Do corpo aflora a reza;
sobra a certeza inútil do que fui,
no estertor do capítulo final.

CADERNO DE POESIAS

“- Que caderno encardido é este que trazes,
de papel vagabundo, áspero e fosco,
trazendo capa com desenho tosco,
pesado de sinais, palavras, frases...?”

Pergunta um camponês de poucas luzes,
diante do caderninho de simplezas.
Então, responde a moça com tristeza:
“- Guardo aqui poesias, céu e cruzes!”

“- Ora, ora, poesia! Que importância
tanta dás às folhinhas amassadas,
a cujo escrito emprestas dom de lei?”

“- Queres saber de sua relevância?
Faz minha alma leve, livre, entusiasmada
e os pés no chão: a vida que almejei!”

CONSPÍCUAS EMOÇÕES

Nego vigência às imorais conjecturas
que se diagramam na genética dos torpes.
A força bruta do animal não convalida
as construções edificadas pelo instinto.

Na sociedade humana, as feras reproduzem-se.
Onde os encantos? A criação é engodo, é farsa;
muita suspeita há na lógica das coisas.
No caos, o mar se agita, explode a nau sem rumo!

Repilo a ação dos alquimistas malandrins,
engodadores do metal desvaloroso,
acobertados pelos rumos da utopia.

Há sorvedouro de conspícuas emoções.
Este é o destino da calhorda insatisfeita,
repositório dos limites ancestrais!

EIS O DISCURSO

Aplacado o furor que me acolhera,
ao ver a lei curvada ante o ilegal,
a palavra retomo na tribuna
repelindo imorais condescendências.

Repudio a proposta de inversão
emergente do chefe da quadrilha.
No assomo do direito do infrator,
a decisão que lavro é inflexível.

Ao pulha sem respeito aos regramentos,
às aves de rapina dos escuros,
sobra a lança moral da dura pena.

Calar a voz ridícula da injúria,
ao repúdio levar bazofiadores:
eis o discurso irado que profiro!
1989

PROCELA IMERECIDA

Povo sofrido, povo amargurado,
asilo das sentenças degradantes:
os gritos abafados e os clamores
proclamam perdições, gente aturdida!

As tragédias sucedem-se vivazes
no cadafalso horrendo dos sinistros.
O putrefato olor emana às noites
dos corpos supliciados pela fome.

Na marcha onde se buscam soluções,
requer-se a remissão dos vis culpados,
facultando o perdão à canalhice!

No caos da escuridade, ei-lo jogado,
ao lado dos direitos que agonizam,
sob o ferrete de procela imerecida!

MEU CORPO É UMA ESTAÇÃO

A sorte está lançada, vou partir.
Voltar, quem sabe eu volte, ainda não sei.
A eternidade guarda os meus segredos,
eis porque não confirmo o meu regresso.

Partir, eu partirei, rumo ao infinito.
Talvez leve meu cão de companheiro,
para enfrentar surpresas que o destino
decerto jogará sobre os meus passos.

Deixar, eu deixarei a experiência
aos pósteros do sangue e da genética,
ao comando das regras da eugenia.

Na sucessiva troca da matéria,
um grupo chega, enquanto outro se vai.
Meu corpo é uma estação nesta jornada.

SUPERIORIDADE DOS INSTINTOS

No mítico pulsar afrodisíaco,
despertar do animal ao doce enlevo,
reside a trama heróica dos mortais
de manietar-se às regras da consciência.

No afã do ardor do sexo profundo,
o homem retém as rédeas da libido,
juiz da eterna luta das potências
domando a resistência dos instintos.

Superado o confronto deste embate,
pela satisfação do irreprimível,
reimplanta-se o domínio das frenagens.

Supondo-se a vitória do senso-ético
sobre o poder sem freios dos instintos,
tudo estará perdido e sem razão.

TEMPERANÇAS

Sob esperanças mortas, muita luta,
ora explosões de sangue e muitos gritos;
e no envolvente mundo dos conflitos,
ações do tipo que envergonha e enluta.

Ilusão revertida em cinza e pó,
outrora esteio da alma tão vazia,
hoje enfrento os vilões do dia-a-dia
à beira dos abismos, triste e só!

Sobre sonhos e planos, eis escombros,
insultando o fantasma da criança,
Anúncio das tragédias, caos e estrondos!

Não fosse a vida ornada de alianças,
Argamassa de fé, desgraça e assombros,
Já não traria na alma temperanças!

AVENTURA IMPOSSÍVEL

A Muralha da China é o mais extenso
dos muros existentes sobre a terra.
Mas é questão de tempo ultrapassá-lo
e atingir qualquer lado que se queira.

Há diversas barreiras naturais,
montes, vales, geleiras, rios, mares.
Para que os homens rompam seus limites,
enfrentará confrontos e perigos.

A inteligência humana é transcendente,
assim como a ousadia e a intrepidez
perante os obstáculos colossos!

Mas conquistar o amor de uma mulher,
o beijo, o abraço, o corpo... não há regras!
É uma aventura às vezes impossível!

DESTINO

Sobre as dores tamanhas que me assaltam,
por mil multiplicadas desde o início,
esclareço a razão dessa odisséia
estampando a ascendência mais primeva.

Sou caixa de segredo hereditário,
montada em gerações de antigos genes.
Trago bandidos rudes, salafrários;
homens de honra, aprumados e virtuosos.

Esse estado bifronte que se arruma,
quase embate animal a compungir-me,
sintetiza o sofrer que me atassalha.

Qual a razão central deste fadário:
viver envolto à vida dos enleios
para servir de liame às gerações?

BUSCA AO PRAZER

Natureza atrevida e rompedora,
és tu, mulher, que, ao grito contundente,
esparges teu desejo tão ardente
no vôo livre de uma águia sonhadora?

Tu andejas por coxilhas e campinas,
mulher- ninfa ou menina caçadora,
voluptualizada à adrenalina
que te impulsiona à fuga das masmorras!

Recebo-te, estás sós, libido acesa,
aprisionada às ânsias, corpo entregue;
teu beijo mostra o quanto estás carente!

Domina-te o delírio, és doce presa.
No cio, me procuras, me persegues,
para as viagens longas, transcendentes!

(Inspirado na poesia “ Um poema à Camponesa”)

O TEU QUERER

Inspiras, sim, o vate misterioso,
garimpador da história mais sublime
que trazes no existir esplendoroso,
sob a fé milagrosa que redime.

Provoco-te, rebelde camponesa,
senhora da notícia alvissareira,
da coragem sem peias, da lhaneza
no tratar a amizade além-fronteira!

Mas no íntimo desejas meus carinhos,
meus beijos, minhas mãos e os meus abraços,
enfim, a liberdade do prazer!

No silêncio dos lábios, eu me alinho;
desentendido, às vezes, eu me faço,
porém sinto que é imenso o teu querer!

(Inspirado na poesia “Um poema à Camponesa“)

MISTÉRIO DAS FLORESTAS

O olor das selvas puras e intocadas
penetra meus sentidos, feito o vento
que rompe sob silvos delicados
o verde nu, espesso e misterioso.

Enfrento a travessia dos receios,
preservar a natura é uma conquista;
meu coração se entrega aventureiro
e eleva hosana à sorte que me guia!

Afasto-me dos homens que se adonam
da natureza rica que se expõe,
desprotegida às garras da ambição!

As horas se amontoam, e a floresta
aguarda que a minha alma e que o meu corpo
integrem-se ao futuro dos verdores!

DESATENÇÃO

O silêncio dos anjos não convence,
enquanto todos cantem seus mistérios,
ao custo das maçãs apodrecidas,
do grito e da oração mais-que-imperfeita.

Na emergência da luz, das novas ordens,
a terra porá cobro à prece espúria.
Cavalos são treinados todo dia
para o trabalho bruto dos arados!

As abelhas estão enlouquecidas;
dão-se à procura inútil das estrelas,
imaginando o néctar da vida!

O inverno condecora o rosto bruto
dos peões indormidos dos levantes,
mostrando-lhes o pasto da miséria!

VITÓRIA DOS VADIOS

Não há norma jurídica que vença
os estelionatários da moral.
Mantêm comportamento desigual,
são cínicos no embate das avenças!

Ratificam tratados ilusórios;
não cumprem com o preestabelecido.
Se condenados, não sofrem por vencidos:
sairão vencedores os finórios!

Acordo sobre acordo e novamente
- devedores astutos, fugidios -
assanham-se ao recurso e ao ludibrio.

Agrupam-se mentiras evidentes,
nominando os lacaios de inocentes,
em mais uma vitória dos vadios!